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CLÓVIS ROSSI
O abuso e o ridículo
BRASÍLIA - Fernando Rodrigues
tem a mais absoluta razão quando
diz que o presidente Lula desafiou
abertamente a lei eleitoral, ao participar da cerimônia de lançamento
do edital do trem-bala.
Aliás, lançamento de edital merece comemoração?
De minha parte, não há nada a
retirar do que disse Fernando Rodrigues. Mas há, sim, o que acrescentar, a saber: a legislação eleitoral brasileira é pândega, uma coleção completa de disparates.
Há quinhentos exemplos, mas fico no caso da cerimônia do edital
do trem-bala que caracterizaria
abuso de poder por Lula ter usado a
máquina pública para promover a
sua candidata. O presidente até pediu desculpas, maneira esfarrapada de corrigir a "falha".
Eleições, com perdão por ter que
dizer tamanha obviedade, são a
melhor e, às vezes, única ocasião
para julgar um governo. Logo, para
que o julgamento se faça de maneira informada, é preciso que sejam
divulgados, pelo governo e pela
oposição, todos os elementos que
permitam avaliá-lo.
Se o governo vai fazer o trem-bala, que o divulgue é parte do processo de julgamento. Digamos que a
obra (essa ou outra qualquer) seja
polêmica ou até nociva, na opinião
de uma parte do eleitorado. A oposição não poderia, levada a lei ao
extremo, criticá-la em qualquer ato
realizado em prédio público. Seria
propaganda -no caso, negativa-
de uma candidatura.
Ridículo? Claro, mas aposto que
haverá mais de um advogado pronto para atuar com base na lei.
Ridícula, na verdade, é a legislação. Trata todo eleitor brasileiro como débil mental, incapaz de decidir
o seu voto sem que esteja protegido
por uma redoma que lhe cassa informações.
Desnecessário dizer que, ridícula
ou não, o presidente tem que cumprir a lei. Mas já estamos grandinhos o suficiente para dispensar a
redoma. Ou não?
crossi@uol.com.br
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