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Editoriais
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Obra equivocada
Tem origem duvidosa e destino
certo o novo complexo viário que
a Prefeitura de São Paulo pretende
construir na zona sul da cidade.
Túneis e melhorias prometem
ligar avenidas e eliminar gargalos,
ao custo de R$ 219 milhões. A obra
integrava uma lista de sugestões
apresentadas pelo sindicato das
empreiteiras aos candidatos a prefeito, em 2008.
Com o passar do tempo, o localizado alívio que o investimento
levará ao trânsito da região se converterá, como tem acontecido há
décadas, em novo ponto de congestionamento para o motorista.
O valor a ser consumido em
mais um incentivo à locomoção
por automóvel em São Paulo seria
suficiente para implementar 20
km de corredores de ônibus. Ao
que tudo indica e ao contrário do
que já pretendeu fazer crer, a melhoria do transporte público não é
uma prioridade para o prefeito
Gilberto Kassab (DEM).
Sua gestão investiu muito pouco em faixas exclusivas para coletivos. É fato que recapeou corredores, mas isso pouco mudou o padrão do transporte para os mais de
3 milhões de passageiros diários
que trafegam nessas vias.
A lentidão, que já se verificava
antes das obras, permaneceu. Em
média, os coletivos andam a pouco mais de 17 km/h nos corredores. Nos horários de pico, a velocidade pode cair para 12 km/h.
Os corredores necessitam de
faixas de ultrapassagem e obras
que priorizem o fluxo dos ônibus
em detrimento do automóvel. Esse seria um destino mais adequado para o dinheiro que a prefeitura
pretende investir nos túneis e avenidas na zona sul.
Intervenções como essa não deveriam ser realizadas antes que a
cidade atingisse um padrão satisfatório na rede pública -o que poderia, aliás, torná-las desnecessárias ou mais modestas.
Infelizmente, o fator eleitoral
acaba por impor-se. O velho modelo do "tocador de obras", que
fez escola em São Paulo, continua
a exercer fascínio sobre políticos
com dificuldade de enxergar os
verdadeiros desafios do futuro.
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