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O NOVO CIRO
O Ciro Gomes que participou,
na terça-feira, de sabatina promovida pela Folha já não era apenas
o candidato sustentado pelos periféricos PPS, PDT e PTB. A fala do ex-governador do Ceará teve de agregar
novos elementos para moldar-se ao
status que a sua candidatura rapidamente adquiriu na disputa pelo Planalto. Trata-se de tentar harmonizar
a retórica radicalmente oposicionista
do pepessista com o fato de que sua
candidatura passou a sustentar-se,
também, num ramo significativo da
direita conservadora.
Ciro Gomes -contrastando com a
branda participação de Lula no dia
anterior- manteve a disposição de
mostrar-se como o mais descompromissado, dentre todos os principais candidatos, com o "establishment" político, empresarial e social
do país. Numa generalização descabida, o presidenciável do PPS tachou
toda a "grande mídia" de governista
e, portanto, contrária a seu projeto de
poder; nos bancos, criticou o fato de
estarem auferindo lucros extraordinários em plena crise.
Mas, se a proposta de Ciro Gomes
é mudar substancialmente a condução das políticas públicas e, portanto, derrotar setores tradicionalmente
privilegiados no Brasil, como explicar a adesão à candidatura da Frente
Trabalhista de um oligarca como
Antonio Carlos Magalhães? Como
vociferar contra o que ele chama de
governismo da "grande mídia" e, ao
mesmo tempo, associar-se a políticos que detêm controle de meios de
comunicação de massa?
A fórmula encontrada por Ciro Gomes para resolver o impasse é clássica: o exercício do poder pessoal do líder político é o elemento capaz de fazer com que essa aliança heterogênea trabalhe a favor do país. Nessa visão da política, a liderança "moral e
intelectual" do presidente é fundamental para, por exemplo, convencer a oligarquia, aliada, a dobrar-se
às forças da suposta modernização.
Por mais que Ciro Gomes seja estrategicamente evasivo a respeito, se
ele for eleito na atual configuração,
das duas uma: ou paga o preço de
governar com o suporte da direita
conservadora -cedendo cargos e
poder político-, ou a sua Presidência tenderá a defrontar-se com impasses e turbulências constantes.
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