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PLÍNIO FRAGA
Um inconveniente já!
RIO DE JANEIRO - O filósofo alemão Jürgen Habermas, em artigo
publicado domingo no caderno
Mais!, aponta como a principal capacidade do intelectual na esfera
pública o "faro vanguardista para a
relevância". Diz que o intelectual
deve intervir quando o cotidiano sai
dos trilhos e irritar-se sobre desenvolvimentos críticos num momento no qual os outros ainda se detêm
na pasmaceira habitual.
Para exercer tal papel, escreveu
Habermas, o intelectual deve ter
virtudes como a sensibilidade diante de lesões da infra-estrutura social, a antecipação dos perigos da vida política comum, o senso do que
falta e poderia ser diferente, a imaginação para projeção de alternativas e "um pouco de coragem para a
polarização, a manifestação inconveniente, o panfleto".
Trazendo a discussão para a realidade brasileira, é assustador o silêncio da intelectualidade perante a
atual conjuntura político-eleitoral.
Está faltando a manifestação inconveniente, alguém que suba na
mesa para desnudar o rei, que agora
acha que ética é uma "historinha",
que quer punir o crime de opinião e
prega o voto em quem tem compromisso com Deus.
Esse inconveniente não deve
aborrecer só ao rei e a seus asseclas.
Precisa botar também o dedo na cara do candidato da empáfia tucana e
chamá-lo à responsabilidade. Se fez
tudo certo no governo, por que o
PCC faz o que faz? Alguém precisa
ter a coragem de dizer quem pariu a
monstruosidade, de cobrar os erros
do consórcio que comanda São
Paulo há 12 anos, de falar com todas
as letras: incompetentes!
Esse chato não ficaria por aí. Pegaria a última flor da esquerda sob o
Sol e desnudaria o discurso autoritário e o voluntarismo ingênuo.
Procura-se urgentemente uma
cabeça falante que ressurja das cinzas que restaram dos projetos esquecidos e das crenças arruinadas.
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