São Paulo, terça-feira, 15 de agosto de 2006 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Educação integral: muitos modelos possíveis
ANTONIO MATIAS
Por isso, diversas lideranças comprometidas com a causa da educação procuram mobilizar a sociedade em amplo movimento que envolva a todos, transformando esse tema na grande prioridade do Brasil. Abrir o debate para toda a sociedade é ponto de partida para toda transformação social. E um tema obrigatório nessa discussão são os artigos 34 e 87 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da educação nacional. Eles prevêem a implantação progressiva de um sistema educacional integral. Dez anos se passaram desde a promulgação da LDB e quase nada foi feito para transformar a diretriz em realidade. O próprio conceito de educação integral está em construção. Não se pode resumir o assunto ao aumento no tempo que alunos passam dentro da sala de aula. Oferecer educação integral é possibilitar o desenvolvimento das diferentes potencialidades humanas, em uma jornada mais longa. Entre os educadores, há pouca divergência sobre a importância do sistema. As grandes questões giram em torno dos mecanismos para sua implantação. O primeiro ponto a ser pensado é a infra-estrutura. É preciso espaço adequado. As escolas estão dimensionadas para atender os alunos em turnos, e não é possível abrigar todos ao mesmo tempo. Quanto à qualidade da educação, é preciso oferecer atividades interdisciplinares e transversais. Não se pode simplesmente confinar as crianças nas salas de aula sem atividades complementares de qualidade e sem mudar o paradigma de educação. O modelo fragmentado, adotado em várias escolas, deve ser substituído por um modelo sistêmico, que estabeleça conexões entre as várias áreas do conhecimento. São muitos os conhecimentos fundamentais para a formação de cidadãos plenos, e integrá-los de forma significativa é um desafio. Tudo, é claro, sob a responsabilidade de bons profissionais. A saída pode estar numa reflexão anterior: o processo educativo se dá somente nas escolas? Há muito tempo, as classes médias e altas descobriram que não. E matriculam seus filhos em aulas complementares. Então, por que não oferecer essas mesmas atividades na educação integral para os alunos da rede pública, fazendo valer o direito à educação garantido a todos pela Constituição? Assim como são muitas as perguntas sobre o assunto, há muitas respostas possíveis. Há uma certeza, no entanto: as soluções só serão viáveis a partir do reconhecimento da responsabilidade de toda a comunidade e do estabelecimento de uma rede englobando governos, escolas, educadores, ONGs, familiares e iniciativa privada. Não há um modelo único de educação integral. Na verdade, alguns Estados e municípios já se articulam para implementar propostas próprias, segundo condições locais e recursos disponíveis. Isso mostra que cada comunidade pode fazer sua própria estratégia de adoção do sistema de acordo com sua realidade. A iniciativa privada, por exemplo, pode disponibilizar sua capacidade de gestão e seus investimentos em prol da articulação para fortalecimento do processo. As ONGs podem se responsabilizar por atividades complementares. Os pais podem se comprometer com uma participação mais ativa. E as secretarias de educação podem propor parcerias com as pastas de Planejamento e Desenvolvimento Social. Um esforço nesse sentido será feito hoje, amanhã e na quinta-feira, quando cerca de mil pessoas, entre professores e técnicos de educação, educadores de ONGs e representantes de todas as instâncias do poder público, se reunirão em São Paulo para o "Seminário Nacional Tecendo Redes para a Educação Integral". Esse é um esforço da Fundação Itaú Social, Unicef, Cenpec e seus parceiros no Programa Educação e Participação, que procura gerar sementes que poderão desabrochar em propostas concretas de educação integral pelo Brasil afora. ANTONIO MATIAS , 59, engenheiro de produção pós-graduado em administração de empresas, é vice-presidente do banco Itaú e da Fundação Itaú Social e diretor-executivo da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Charles A. Tang: Mais do que salvaguardas Índice |
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