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CLÓVIS ROSSI
As "fast" teorias, ilusórias
SÃO PAULO - Não é que a França
já saiu da recessão? Como, se não
faz tanto tempo assim era acusada
de esclerosada, de excessivamente
"étatiste", parte do que chamavam
de "velha Europa", como contraponto aos países ex-comunistas,
atacados do frenesi capitalista próprio dos recém-convertidos?
Não eram os Estados Unidos o
modelo da modernidade, da inventividade, da produtividade, da expansão econômica infinita? Como é
que a França ousa sair da recessão
antes dos Estados Unidos?
Pior, do ponto de vista dos fundamentalistas de mercado, os Estados
Unidos só não afundaram mais e só
estão pondo alguns fios de cabelo
fora d'água graças à mais formidável pilha de dinheiro jamais mobilizada na história deste país (digo, daquele país) para salvar o mercado.
Ah, a Alemanha saiu igualmente
do fundo do poço, com todo o seu
modelo, também muito pendurado
no Estado. Ah, e o Reino Unido?
Não saiu, não, embora seja, desde
o reinado Margaret Thatcher
(1979/1990), a vice-campeã mundial do neoliberalismo.
Só estou citando esses fatos para
voltar ao texto de anteontem nesta
Folha de Mohamed El-Erian, um
desses deuses do mercado, que ironizava a gangorra nas análises sobre o descola/não descola entre as
economias emergentes e as do
mundo rico.
Para voltar também a Ruy Castro
que, na quarta-feira, dizia: "Fast
food é junk food, como se sabe, e há
uma relação óbvia entre junk food e
junk music: se as pessoas comessem a música que a mídia lhes serve
para ouvir, já estariam mortas há
muito tempo".
Pois é, Ruy, se as pessoas comessem as "fast" teorias econômicas
que os indefectíveis analistas lhes
servem para entender o mundo, entenderiam tudo errado.
Não é hora de dar um "slow motion" na elaboração afobada de modelos e teorias?
crossi@uol.com.br
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