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FERNANDO RODRIGUES
O DNA da apatia
BRASÍLIA - Só um sentimento de
pânico patológico explica a insinuação do ex-ministro e ex-deputado
petista José Dirceu sobre cassar o
mandato de Marina Silva se a senadora trocar o PT pelo PV.
"O seu mandato [de Marina Silva]
pertence ao povo do Acre e também
ao PT", escreveu Dirceu em seu
blog. A ameaça foi logo debelada pelo Palácio do Planalto e por petistas
em geral. Depois de dezenas de escândalos engavetados, seria devastador para a imagem do PT perseguir Marina Silva.
Para a senadora pelo Acre, talvez
fosse até um favor. Ganharia publicidade gratuita como a única cassada no lodaçal do Congresso.
Mas tudo parece ter sido mesmo
uma ideia sem conexão com a realidade. No atual momento pelo qual
passa o Poder Legislativo, só um fato muito inaudito resultará na punição de algum deputado ou senador. Por ora, estão todos salvos.
Embora o foco agora seja o Senado, não custa lembrar das estripulias na Câmara. Lá, já está tudo abafado. Usou-se até parecer jurídico
pago com dinheiro público na absolvição do deputado que levou a
namorada ao exterior.
Essa impunidade generalizada
parece ter conexão com o momento
pelo qual passa o país. A economia
não foi para o buraco. Milhões de
brasileiros recebem o Bolsa Família. A sensação de bem-estar produzida leva os cidadãos a pensar mais
no próximo crediário nas Casas Bahia e menos em protestar contra a
canalhice na política.
Num país miserável, não é surpresa a barriga vir na frente da ética
e da moral quando se trata de escolher entre ganhar a vida e preocupar-se com políticos indecentes.
Nesta semana, o PSOL fez um
protesto anti-Sarney. Apareceram
menos de 30 gatos pingados. Faltou
povo. Como escreveu ontem Clóvis
Rossi, pouco ou nada acontecerá
enquanto a maioria achar que basta
mandar e-mails desaforados para
os congressistas.
frodriguesbsb@uol.com.br
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