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O ELEITOR E A DEMOCRACIA
O percentual de eleitores que se
abstiveram de votar, anularam o voto
ou votaram em branco praticamente
dobrou entre a eleição presidencial
de 89 e a de 94. Esse índice saltou,
entre um pleito e outro, de 17,60%
para 33,39%. A despeito do que possa ocorrer na eleição deste ano, há
hoje a sensação difusa de que uma
grande parcela da população acompanha o processo eleitoral com uma
certa frieza ou indiferença, talvez
inédita desde a volta da democracia.
Esse comportamento pode denotar
apatia ou amadurecimento, dependendo do ângulo em que seja observado. Ele poderia ser explicado, de
todo modo, por duas ordens de razões, uma própria da história política recente do Brasil, outra que leva
em conta o clima político mundial.
Por um lado, parece razoável supor
que a rotinização das eleições e a
normalização da democracia no país
tendem a diminuir o grau de expectativa diante de cada pleito. É esperado
que o aprendizado do voto gere, a
médio prazo, um eleitor mais cético
em relação a discursos grandiloquentes e menos suscetível à demagogia, que ainda contamina fortemente a democracia brasileira. Tal
fato, se pode vir a diminuir a voltagem da política, também é um sinal
de realismo e de maturidade.
Some-se a isso o fato de que, no
mundo todo, a política não está mais
na era dos extremos. Deixou de suscitar reações apaixonadas, como as
vividas no período de polarização
ideológica dos anos de Guerra Fria. A
falência de regimes extremistas e a
própria globalização limitaram o espectro dos programas políticos.
Mas, no que diz respeito ao Brasil,
país que ainda convive com índices
deploráveis de miséria e que tem como um de seus maiores desafios diminuir o fosso das desigualdades sociais e regionais, a aparente indiferença diante da política é algo que
inspira certa apreensão.
Muito embora a democracia esteja
funcionando nas instituições brasileiras, o que é um avanço que não se
deve nunca menosprezar, falta ainda
um longo caminho para enraizá-la
numa sociedade que, ao longo de sua
história, não soube cultivar o hábito
de resolver seus conflitos pela via democrática. O voto, mais que dever, é
um direito, uma maneira de aprimorar a cidadania -cujo exercício ainda
está longe de ser pleno.
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