São Paulo, terça, 15 de setembro de 1998

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Chegou a hora da verdade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O discurso de ontem do presidente Bill Clinton funciona, entre outras coisas, como resgate dos que foram chamados de catastrofistas, por alertarem, seguidamente, para o risco de o mundo entrar em um processo de depressão.
Agora é o presidente da única superpotência do planeta quem afirma: "Este é o maior desafio financeiro que o mundo enfrenta em meio século".
Depois, Clinton diz o que um punhado de gente, como, para citar um só exemplo, o embaixador Rubens Ricupero, vem dizendo faz uma pá de tempo: todas as maravilhas que o livre mercado prometeu entregar não chegaram, até agora, a um enorme número de pessoas.
"Se os cidadãos se cansarem de esperar que a democracia e o livre mercado proporcionem uma vida melhor para eles, então há o risco real de que a democracia e o livre mercado, em vez de continuar prosperando juntos, comecem a murchar juntos", percebeu, agora, o presidente dos EUA.
Clinton propõe a construção de "uma nova arquitetura financeira para o século 21". Seu colega brasileiro Fernando Henrique Cardoso já havia se antecipado e vem propondo a mesma coisa, desde que tomou posse.
É claro que a palavra de Clinton pesa um pouquinho mais que a de FHC. Por isso, talvez o mundo de fato se disponha, agora, a tentar botar um pouco de ordem no cassino financeiro.
Se o Brasil conseguir resistir até pelo menos o início das discussões sobre a tal de "nova arquitetura", no mês que vem, aí será a hora de FHC mostrar o que vale. Afinal, Clinton já insinuou que a nova ordem deve apoiar-se em mais "iniciativas de abertura de mercados".
É o que interessa aos EUA, mas está, agora, cristalino que o que interessa aos EUA pode fazer muito mal à saúde "dos milhões que foram jogados em súbita pobreza" pela turbulência financeira, como o próprio Clinton afinal admitiu.



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