São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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ATMOSFERA CARREGADA

São inquietantes os dados que mostram um acentuado aumento da taxa de acumulação de gás carbônico (CO2) na atmosfera nos últimos anos. O CO2 é um dos principais causadores do efeito estufa, aquecimento gradual da atmosfera do planeta, que poderá, entre outras conseqüências, causar a inundação de arquipélagos e cidades costeiras.
Desde que os registros começaram, em 1958, os biênios 2001/2002 e 2002/2003 foram os primeiros períodos consecutivos em que a concentração de CO2 superou 2 ppm (partes por milhão). O que causa particular preocupação é o fato de que esse foi um período em que não se registraram picos de atividade industrial nem o fenômeno climático El Niño, que já foram correlacionados ao aumento das taxas de CO2.
Pode ser que o incremento esteja associado aos grandes incêndios florestais no hemisfério Norte nos últimos anos, mas é possível que se tenha subestimado a contribuição humana para o efeito estufa.
Uma das hipóteses mais temidas pelos climatologistas é que estejamos assistindo ao começo de um efeito "feedback", no qual florestas e oceanos perdem sua capacidade de absorver grandes quantidades de carbono seqüestrando CO2 da atmosfera. Se isso de fato estiver ocorrendo, as piores conseqüências do efeito estufa, como a elevação do nível dos mares, grandes secas e tempestades mais freqüentes, previstas para o final do século, poderão se antecipar em algumas décadas.
É claro que, por enquanto, tudo são hipóteses. O que não é conjectura, mas fato, é que a ação humana está contribuindo para o efeito estufa e é preciso começar a reduzir as emissões de certos gases.
Nesse terreno, de concreto existe o Protocolo de Kyoto, que poderá finalmente entrar em vigor depois que a Rússia o ratificar, o que acaba de anunciar que fará. É claro que qualquer iniciativa nesse campo fica esvaziada sem os EUA, de longe os maiores emissores de CO2. Em 2001, com George W. Bush no poder, a Casa Branca abandonou o tratado. Dentro de duas semanas, após a eleição norte-americana, saberemos quais serão as chances de Washington voltar a subscrever o acordo.


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