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GASTO SOCIAL
O documento do Ministério
da Fazenda que propõe diretrizes para uma reforma do gasto público social coloca em pauta um tema de extrema relevância. Num país
em que dramáticas urgências sociais
convivem com um quadro de escassez de recursos -agravado pelo elevado endividamento e pelo renitente
padrão de baixo crescimento econômico-, a aplicação dos recursos públicos merece especial atenção.
Provavelmente poucos achariam
incorreto o pressuposto de um redirecionamento de gastos que retirasse
dos mais ricos em favor dos mais pobres. A princípio tudo parece muito
justo, mas as coisas, infelizmente,
não são tão simples. Primeiramente,
seria preciso qualificar melhor quem
são os verdadeiramente privilegiados
num país onde alguém com renda
mensal de R$ 2.000 reais está entre
os 10% do topo da pirâmide. A idéia,
por exemplo, de agravar ainda mais
os tributos sobre a classe média, eliminando abatimentos com educação e saúde do Imposto de Renda,
atingirá, certamente, famílias que, a
rigor, poderiam ser classificadas
apenas como remediadas.
Salvo como parte de um projeto
mais amplo e consistente de reforma
tributária, algo que o governo não
mais parece apto a conseguir, o possível novo avanço do poder público
sobre a renda desses setores pode
praticamente nada representar em
benefício para os mais pobres. O padrão de ineficiência da máquina governamental bem como as exigências de elevados superávits nas contas públicas dão margem a sérias
desconfiança sobre a efetiva destinação desses recursos extras.
Embora idéias relativas à focalização de gastos em determinados segmentos costumem surgir revestidas
de caráter de justiça social, elas devem ser observadas com cautela. O
país não pode abdicar do ideal de assegurar acesso universal à população
em educação e saúde. Políticas compensatórias são necessárias, mas o
fundamental está no padrão de desenvolvimento econômico a ser implantado. O país precisa não apenas
crescer a taxas expressivas mas fazê-lo de modo a promover menos desigualdade e mais inclusão social.
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