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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Vencer o mal
com o bem
Os meios de comunicação têm revelado ao país a situação dos encarcerados. Cresceu o número de rebeliões com apreensão de reféns, a
brutalidade entre os presos, o confronto com os guardas e as agressões e
os assassinatos. A frequência desses
episódios denota a grave deterioração
do sistema carcerário, o que requer
providências adequadas e urgentes
por parte das autoridades. As cenas de
repressão, com presos sentados no
chão, desnudos, com as mãos sobre as
cabeças, questionam fortemente nossa sociedade.
O aumento do crime torna o problema ainda mais premente, provocando
o inchaço nas cadeias e nos presídios.
As notícias nos estarrecem: assaltos
com sevícias, crimes hediondos, intenso tráfico de drogas, organização
de quadrilhas, reação da polícia, tiroteios pelas ruas da cidade.
É preciso, no entanto, que a sociedade perceba as causas de toda essa violência. Congresso mundial realizado
em Dublin (Irlanda), de 5 a 11 de setembro deste ano, com o tema "Prisões no Terceiro Milênio", que teve representantes de 57 países, colocou em
evidência o drama da miséria e da fome. A enorme desigualdade social
exacerba a indignação e provoca reações de agressão, de vingança e de
busca desenfreada por vantagens e
por bens materiais.
Na raiz mais profunda da desigualdade social, encontra-se o erro da sociedade, que falhou na escolha de valores, privilegiando a acumulação de
riquezas, a busca de prazer sem controle e a sede de poder e dominação.
Essa desordem axiológica aciona uma
série de dinamismos de cobiça e corrupção que destroem a relação de estima e respeito devidas a toda pessoa.
A sociedade precisa discernir os valores que dão sentido à vida humana e
educar-se para promovê-los. Todos
somos convocados a assumir a nossa
parte de responsabilidade e a unir esforços para realizar um projeto novo
de sociedade que tenha por fundamento, à luz de Deus, a fraternidade
entre os seres humanos, superando
toda exclusão social. Esse empenho
coletivo obriga-nos a olhar com mais
humanismo a situação dos encarcerados. Cabe à sociedade, diante do crime, identificar os culpados, corrigir o
erro, exigir reparação, mas zelar para
que o sistema carcerário respeite a
dignidade humana e a possibilidade
de recuperação.
Segue-se a necessidade de eliminar a
tortura e os maus-tratos, a duração ilimitada de prisão provisória e o encarceramento sem provas. A situação é
deprimente: população excessiva, falta de água, de higiene e de luz, arbitrariedade da polícia e brutalidade e assassinatos entre os presos.
Para detentos que, pela gravidade do
crime e pelo perigo para sociedade,
são condenados a longas penas, torna-se indispensável a reclusão, mas esta
deve respeitar as exigências da dignidade, a oportunidade de trabalho e o
relacionamento humanitário. Para
uma larga faixa de detentos, no entanto, o tratamento deveria ser agilizado,
visando à reinserção na sociedade.
Faço um apelo às comunidades cristãs e às pessoas de boa vontade para
que, além do dever prioritário de cuidar das vítimas dos crimes, cooperem
em assegurar o acompanhamento jurídico e espiritual de cada caso, cuidem para que haja condições de alimentação, de higiene e de leito e mantenham o atendimento às famílias necessitadas dos encarcerados.
A ação mais eficaz contra o crime está no compromisso da fraternidade.
É preciso vencer o mal com o bem
(Rom. 12, 21).
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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