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Nova terapia
Deterioração no varejo
e no nível de emprego induz mudança de rota, ainda incompleta, no plano de socorro dos EUA
A MAIS recente safra de
estatísticas sobre a
economia americana
mostra que a crise faz
estragos no varejo e no mercado
de trabalho. As vendas do comércio tiveram em outubro sua pior
queda em 16 anos; o volume de
pessoas que recebem seguro-desemprego é o maior em 25 anos.
Redes varejistas, em especial
as que dependem do crédito para
vender, enfrentam dificuldades
para tocar seus negócios. Paralelamente, a situação da indústria
automobilística nos EUA se deteriora. A nova feição da crise já
faz o governo e o Congresso americanos mudarem o curso das políticas de socorro econômico.
Há dois meses, o Legislativo
pôs US$ 700 bilhões à disposição
do Tesouro dos EUA para operações de ajuda financeira. A destinação dos recursos seria a compra dos "ativos tóxicos" -títulos
de dívida ligados a hipotecas. Até
agora não houve tais compras,
que possivelmente nunca ocorrerão. Parte da dotação vem sendo utilizada para que o governo
adquira participações em instituições financeiras, uma forma
de injetar recursos diretamente
nos bancos, nos moldes do plano
lançado no Reino Unido.
Agora Henry Paulson, o secretário do Tesouro, fala em destinar outra parte do dinheiro a
uma linha especial de financiamento. A intenção é evitar uma
depressão nos financiamentos
com cartões de crédito, bem como nas operações de compra de
veículos e de empréstimos estudantis. Aos poucos, mas ainda a
reboque dos fatos, as autoridades reconhecem que a crise não é
localizada. Ela já afeta o conjunto da economia e demanda respostas gerais e ambiciosas.
Ficou claro, como alguns vaticinavam no início da derrocada,
que era apenas questão de tempo
para que a retração do crédito, ao
dificultar a rolagem do enorme
volume de compromissos anteriormente assumidos, pusesse à
mostra os vários outros focos de
risco exagerado em que bancos e
consumidores vinham incorrendo. Não há muita dúvida de que a
reação a esse cenário vai redundar em novos pacotes fiscais.
A transição em curso na Casa
Branca e no Congresso, contudo,
dificulta que se decidam logo
quais serão as cifras e os contornos dos programas adicionais de
socorro econômico. Números gigantescos, da ordem de meio trilhão de dólares, têm aparecido
em especulações.
Quanto à destinação, fala-se
genericamente em cortar impostos dos consumidores de renda
média e baixa e em interromper
a onda de despejos de mutuários
inadimplentes. Apesar da indefinição na política, a crise provavelmente vai piorar até a posse
de Barack Obama, em 20 de janeiro, data a partir da qual deverão se estabelecer as novas diretrizes para seu combate.
Até agora Washington contou
com a confiança irrestrita no dólar para financiar as megaintervenções na economia já implementadas. Resta saber como o
mundo vai reagir a uma ampliação ainda maior da dívida e do
déficit públicos dos EUA. Em
qualquer outro país, esse fato seria interpretado como sinal de
vulnerabilidade extrema, o que
desencadearia uma onda de desconfiança na moeda nacional.
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