São Paulo, sábado, 15 de novembro de 2008

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Editoriais

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Nova terapia

Deterioração no varejo e no nível de emprego induz mudança de rota, ainda incompleta, no plano de socorro dos EUA

A MAIS recente safra de estatísticas sobre a economia americana mostra que a crise faz estragos no varejo e no mercado de trabalho. As vendas do comércio tiveram em outubro sua pior queda em 16 anos; o volume de pessoas que recebem seguro-desemprego é o maior em 25 anos.
Redes varejistas, em especial as que dependem do crédito para vender, enfrentam dificuldades para tocar seus negócios. Paralelamente, a situação da indústria automobilística nos EUA se deteriora. A nova feição da crise já faz o governo e o Congresso americanos mudarem o curso das políticas de socorro econômico.
Há dois meses, o Legislativo pôs US$ 700 bilhões à disposição do Tesouro dos EUA para operações de ajuda financeira. A destinação dos recursos seria a compra dos "ativos tóxicos" -títulos de dívida ligados a hipotecas. Até agora não houve tais compras, que possivelmente nunca ocorrerão. Parte da dotação vem sendo utilizada para que o governo adquira participações em instituições financeiras, uma forma de injetar recursos diretamente nos bancos, nos moldes do plano lançado no Reino Unido.
Agora Henry Paulson, o secretário do Tesouro, fala em destinar outra parte do dinheiro a uma linha especial de financiamento. A intenção é evitar uma depressão nos financiamentos com cartões de crédito, bem como nas operações de compra de veículos e de empréstimos estudantis. Aos poucos, mas ainda a reboque dos fatos, as autoridades reconhecem que a crise não é localizada. Ela já afeta o conjunto da economia e demanda respostas gerais e ambiciosas.
Ficou claro, como alguns vaticinavam no início da derrocada, que era apenas questão de tempo para que a retração do crédito, ao dificultar a rolagem do enorme volume de compromissos anteriormente assumidos, pusesse à mostra os vários outros focos de risco exagerado em que bancos e consumidores vinham incorrendo. Não há muita dúvida de que a reação a esse cenário vai redundar em novos pacotes fiscais.
A transição em curso na Casa Branca e no Congresso, contudo, dificulta que se decidam logo quais serão as cifras e os contornos dos programas adicionais de socorro econômico. Números gigantescos, da ordem de meio trilhão de dólares, têm aparecido em especulações.
Quanto à destinação, fala-se genericamente em cortar impostos dos consumidores de renda média e baixa e em interromper a onda de despejos de mutuários inadimplentes. Apesar da indefinição na política, a crise provavelmente vai piorar até a posse de Barack Obama, em 20 de janeiro, data a partir da qual deverão se estabelecer as novas diretrizes para seu combate.
Até agora Washington contou com a confiança irrestrita no dólar para financiar as megaintervenções na economia já implementadas. Resta saber como o mundo vai reagir a uma ampliação ainda maior da dívida e do déficit públicos dos EUA. Em qualquer outro país, esse fato seria interpretado como sinal de vulnerabilidade extrema, o que desencadearia uma onda de desconfiança na moeda nacional.


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