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SÓ MAIS UMA CÚPULA
A Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, cuja
primeira fase ocorreu em Genebra,
talvez não passe de um jogo de cena
no tabuleiro desacreditado do sistema de relações internacionais.
O tema do encontro, no entanto, é
crucial, pois a sociedade da informação, de que a internet é a ponta mais
visível, ajuda a definir hoje os horizontes do desenvolvimento global.
Mais que o uso de computadores
em rede, o desafio maior é o de transformar as relações de produção e as
hierarquias sociais com base na capacidade de cada indivíduo, empresa
e país produzir conhecimento.
A cúpula, convocada pelas Nações
Unidas, não está acima das incertezas que cercam a organização. Na
prática, os padrões de tecnologia digital têm sido controlados pelos
EUA; é duvidoso que a ONU seja capaz de superar esse unilateralismo.
Em seu pronunciamento, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, alertou para a necessidade de construir uma sociedade da informação que será democrática apenas à medida que "a comunidade internacional seja capaz de estabelecer um modelo multilateral,
transparente e democrático de governança da própria internet".
Nessa luta por uma democracia informacional planetária, o governo
brasileiro reafirmou em Genebra sua
opção pelo software livre -embora,
paradoxalmente, o Ministério das
Comunicações continue ausente dos
debates acerca desse tema. É importante para a democracia que uma nova cultura consagre o domínio coletivo dessa linguagem universal.
Esse projeto depende de políticas
nacionais aptas a articular o governo,
o setor privado, o terceiro setor e a
pesquisa. Sem foros globais democráticos e com políticas nacionais desarticuladas, as cúpulas nada mais
serão que exercícios diplomáticos de
retórica tecnológica e geopolítica.
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