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São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

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SÓ MAIS UMA CÚPULA

A Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, cuja primeira fase ocorreu em Genebra, talvez não passe de um jogo de cena no tabuleiro desacreditado do sistema de relações internacionais.
O tema do encontro, no entanto, é crucial, pois a sociedade da informação, de que a internet é a ponta mais visível, ajuda a definir hoje os horizontes do desenvolvimento global.
Mais que o uso de computadores em rede, o desafio maior é o de transformar as relações de produção e as hierarquias sociais com base na capacidade de cada indivíduo, empresa e país produzir conhecimento.
A cúpula, convocada pelas Nações Unidas, não está acima das incertezas que cercam a organização. Na prática, os padrões de tecnologia digital têm sido controlados pelos EUA; é duvidoso que a ONU seja capaz de superar esse unilateralismo.
Em seu pronunciamento, o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, alertou para a necessidade de construir uma sociedade da informação que será democrática apenas à medida que "a comunidade internacional seja capaz de estabelecer um modelo multilateral, transparente e democrático de governança da própria internet".
Nessa luta por uma democracia informacional planetária, o governo brasileiro reafirmou em Genebra sua opção pelo software livre -embora, paradoxalmente, o Ministério das Comunicações continue ausente dos debates acerca desse tema. É importante para a democracia que uma nova cultura consagre o domínio coletivo dessa linguagem universal.
Esse projeto depende de políticas nacionais aptas a articular o governo, o setor privado, o terceiro setor e a pesquisa. Sem foros globais democráticos e com políticas nacionais desarticuladas, as cúpulas nada mais serão que exercícios diplomáticos de retórica tecnológica e geopolítica.


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