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CLAUDIA ANTUNES
Guerra Fria e memória
SÃO PAULO - Quiseram a história
e o tempo que os dois maiores símbolos da Guerra Fria na América
Latina, Augusto Pinochet e Fidel
Castro, saíssem de cena juntos. Fidel, doente desde julho, implantou
uma ditadura em nome de uma utopia igualitária; Pinochet comandou
uma ditadura para suprimir essa
ideologia, pois não representava
uma contra-utopia liberal.
Defensores podem argumentar
com conquistas dos dois regimes
-embora o milagre econômico que
o de Pinochet teria produzido pareça agora para lá de medíocre. Mas a
marca duradoura que ambos deixaram se refere à conduta dos Estados
Unidos. Pinochet teve o apoio da
Casa Branca, que sabotou o governo de Allende. Fidel foi alvo de
complôs e de um embargo.
Essa marca alimenta, ainda hoje,
o antiamericanismo na América
Latina. Ela é fundamental para o
poder de atração de um Chávez ou
de um Morales, e provoca espasmos
de patriotismo quando o Brasil, por
exemplo, obriga turistas americanos a tirar impressões digitais.
Há casos doentios, mas o antiamericanismo não se reduz a uma
obsessão do "perfeito idiota latino-americano", como gostariam Álvaro Vargas Llosa e seus colegas que
cunharam a expressão. Assim como
esquerda e direita, abaixo do Equador, têm dificuldades de enxergar
as malfeitorias de lavra própria, os
americanos são generosos ao absurdo com a própria história.
Os EUA ainda vivem embalados
pelo mito da benevolência de sua
ação no mundo. Tanto que boa parte dos americanos apoiou a invasão
do Iraque, e muitos acreditaram
sinceramente que a democracia seria exportada pelas armas. A história oficial do século 20, define o
professor Andrew Bacevich, da
Universidade de Boston, "são os
EUA se erguendo em defesa da liberdade e derrotando os terríveis
nazistas e comunistas". É uma história de sucesso, mas a embriaguez
da vitória não é boa conselheira, como mostram os tempos atuais.
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