São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

O falso Fla-Flu

SÃO PAULO - O burlesco episódio do piloto norte-americano só tende a acentuar o ambiente de falso Fla-Flu que se vai criando nas relações Brasil-Estados Unidos.
Falso por ao menos duas razões:
1 - O relacionamento entre os dois governos é excelente, exceto no que diz respeito à negociação comercial (regional ou global). Mas, nessa área, quanto mais intercâmbio há, mais conflitos surgem, o que é natural no mundo moderno.
2 - Ambos os governos têm a intenção de manter o relacionamento nesse pé ou até de melhorá-lo.
O problema é que funcionários subalternos da administração Bush, imbuídos do zelo religioso de seu chefe, deixam vazar informações, assimiladas acriticamente por uma parte da mídia, apontando divergências importantes entre as partes.
Foi o que aconteceu na recém-encerrada Cúpula Extraordinária das Américas, em que o ambiente de Fla-Flu surgiu em diferentes momentos e aspectos. Só que não foi Fla-Flu, mas um modestíssimo casados x solteiros, sem taça, sem título.
Explico: cúpulas do gênero rarissimamente entram em questões substanciais. A única que havia na reunião de Monterrey era a cláusula, proposta pelos Estados Unidos, pela qual os países tidos como corruptos ficariam excluídos do sistema interamericano. Mas, nesse caso, ao contrário do que deu a entender parte da mídia, não foi um confronto Brasil-EUA, mas EUA contra o resto (31 dos 34 países participantes da cúpula, já que só Canadá e El Salvador ficaram com a posição norte-americana).
A cláusula caiu, mas seria preciso um ufanismo exacerbado para tratar o episódio como vitória do Brasil contra os Estados Unidos.
O resto era pura perfumaria, tanto que, com algum esforço, até Fidel Castro, o único excluído, assinaria o documento final de Monterrey.
Tudo somado, combinemos o seguinte: na hora do Fla-Flu, vale suar a camisa, chutar a canela, matar-se em campo enrolado na bandeira. Mas, no casados x solteiros, é melhor levar na brincadeirinha.


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