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CLÓVIS ROSSI
O falso Fla-Flu
SÃO PAULO - O burlesco episódio do piloto norte-americano só tende a
acentuar o ambiente de falso Fla-Flu
que se vai criando nas relações Brasil-Estados Unidos.
Falso por ao menos duas razões:
1 - O relacionamento entre os dois
governos é excelente, exceto no que
diz respeito à negociação comercial
(regional ou global). Mas, nessa área,
quanto mais intercâmbio há, mais
conflitos surgem, o que é natural no
mundo moderno.
2 - Ambos os governos têm a intenção de manter o relacionamento nesse pé ou até de melhorá-lo.
O problema é que funcionários subalternos da administração Bush,
imbuídos do zelo religioso de seu chefe, deixam vazar informações, assimiladas acriticamente por uma parte
da mídia, apontando divergências
importantes entre as partes.
Foi o que aconteceu na recém-encerrada Cúpula Extraordinária das
Américas, em que o ambiente de Fla-Flu surgiu em diferentes momentos e
aspectos. Só que não foi Fla-Flu, mas
um modestíssimo casados x solteiros,
sem taça, sem título.
Explico: cúpulas do gênero rarissimamente entram em questões substanciais. A única que havia na reunião de Monterrey era a cláusula,
proposta pelos Estados Unidos, pela
qual os países tidos como corruptos
ficariam excluídos do sistema interamericano. Mas, nesse caso, ao contrário do que deu a entender parte da
mídia, não foi um confronto Brasil-EUA, mas EUA contra o resto (31 dos
34 países participantes da cúpula, já
que só Canadá e El Salvador ficaram
com a posição norte-americana).
A cláusula caiu, mas seria preciso
um ufanismo exacerbado para tratar
o episódio como vitória do Brasil contra os Estados Unidos.
O resto era pura perfumaria, tanto
que, com algum esforço, até Fidel
Castro, o único excluído, assinaria o
documento final de Monterrey.
Tudo somado, combinemos o seguinte: na hora do Fla-Flu, vale suar
a camisa, chutar a canela, matar-se
em campo enrolado na bandeira.
Mas, no casados x solteiros, é melhor
levar na brincadeirinha.
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