UOL




São Paulo, domingo, 16 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O futuro de uma indiazinha

MARCIO POCHMANN


Parte da comunidade indígena de São Paulo vive em extrema pobreza, com rendimento médio de R$ 20 a R$ 30 mensais

Importantes segmentos sociais têm sido deserdados do processo de construção do Brasil como nação. A comunidade indígena certamente é o segmento com o qual o país possui o maior déficit de inclusão.
Dos mais de mil povos indígenas que, há 500 anos, somavam entre 2 milhões e 4 milhões de pessoas, restam tão-somente cerca de 215 etnias. Em todo o país, há 180 diferentes línguas faladas por aproximadamente 345 mil índios, distribuídos entre 589 terras indígenas, conforme informações da Funai.
No Estado de São Paulo, concentram-se cerca de 3.500 índios. Somente na capital paulistana, existem três aldeias, onde vive um terço de todos os índios do Estado. Duas -Morro da Saudade e Krukutu- ficam no distrito administrativo de Parelheiros (zona sul), e a terceira -Jaraguá-, no distrito de Jaraguá (zona oeste). Todas as aldeias são da etnia guarani, representando quase 3% dos índios guaranis do país.
Conforme os levantamentos feitos pela Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, 76% da comunidade indígena pertencente ao Distrito de Parelheiros encontra-se em situação de extrema pobreza, vivendo com rendimento médio de R$ 20 a R$ 30 mensais. Em paralelo à dura realidade da comunidade indígena, não há uma intervenção pública capaz de enfrentar os diversos problemas dessa população, como a pobreza e a ausência de perspectivas emancipatórias. Justamente esse é o caso simbólico da menina Flor do Mar (Kerexu-Mirim), de sete anos, moradora de Parelheiros, pois agora, por intermédio dos programas sociais da Prefeitura de São Paulo, a comunidade indígena passa a ter a esperança de um futuro melhor.
Futuro construído com muitas parcerias. De um lado, o programa Renda Mínima garante um rendimento médio familiar de R$ 180 mensais, suficiente para fazer frente às necessidades básicas e oferecer condições adequadas para que os filhos possam estudar. Dessa forma, abre-se a possibilidade de romper com a chamada pobreza intergeracional, que faz com que os filhos dos pobres reproduzam a situação de pobreza dos pais, cujos pais também eram pobres.
De outro lado e de maneira simultânea, a comunidade indígena também recebe o apoio do programa Oportunidade Solidária, responsável pela difusão da incubação de empreendimentos coletivos, que visam a geração de trabalho e renda. Assim, as famílias indígenas beneficiadas pelo programa Renda Mínima ingressam numa fase de emancipação da condição de pauperizadas por intermédio da ampliação de atividades como agricultura familiar e artesanato.
Em síntese, a menina Flor do Mar poderá contar com um futuro melhor, bem distinto do que hoje se estabelece para significativa parcela pobre do país. A família dela, assim como outras 266 mil já atendidas pelos programas sociais da Prefeitura de São Paulo, passa a ter um projeto de emancipação das condições de exclusão social, que marcam o processo de construção do Brasil. Projeto este que garante uma renda mínima familiar, zela pelo aumento da escolaridade de crianças e jovens, promove cidadania e incentiva a geração de novos postos de trabalho, bem como a capacitação de trabalhadores e o fomento de novas cooperativas de economia popular.
Em tempo: a capital paulistana é a única com projeto social dessa dimensão e qualidade.

Marcio Pochmann, 40, economista, professor licenciado do Instituto de Economia de Unicamp, é secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo da Prefeitura de São Paulo.


Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Luiz Carlos Bresser - Pereira: Lula não está traindo ninguém

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.