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SOS BIBLIOTECA
Num de seus livros de memórias, o escritor Pedro Nava
(1903-1984) imagina, na porta das bibliotecas brasileiras, alto-falantes a
anunciar: "Entrem para ler". Caricatura da falta de estímulo à leitura no
Brasil, o raciocínio de Nava remete à
situação da Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
Entre livros, jornais, postais, revistas e moedas, a instituição detém um
acervo de mais de 3 milhões de itens
-o segundo maior do país, atrás
apenas da Biblioteca Nacional, no
Rio de Janeiro. Mas seu estado de
conservação requer cuidado urgente.
Como mostrou reportagem publicada anteontem nesta Folha, na biblioteca, que tem servido de abrigo a
sem-teto do centro da cidade, apenas
20% do acervo se encontra catalogado eletronicamente -o restante
consta ainda de fichas escritas à
mão. E o corpo de bibliotecários, que
em 1992 era de 66 profissionais, foi
reduzido para 25.
No segundo semestre, o prédio da
biblioteca deve passar por uma reforma. Cerca de R$ 12 milhões serão investidos no conserto de infiltrações,
na derrubada das grades em torno da
edificação, na reorganização espacial dos livros e periódicos. Continua
sem previsão, contudo, a modernização do acervo e das condições para
consulta e empréstimo de livros. É
urgente que o poder público e setores da iniciativa privada canalizem
investimentos nesse setor, sob pena
de condenar ao sucateamento uma
das principais referências em pesquisa na cidade.
Uma idéia interessante seria determinar que todos os livros editados
em São Paulo tivessem ao menos um
exemplar depositado na biblioteca.
Outro, mais básico, seria a criação de
um setor de doações que pudesse receber e selecionar obras de acervos
particulares. Isso sem mencionar a
catalogação eletrônica dos livros e a
ampliação do corpo técnico.
São medidas pouco dispendiosas,
que dependem mais de iniciativa e de
uma política cultural focada que de
investimentos de vulto.
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