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CLÓVIS ROSSI
Devolvam a "minha" escola
SÃO PAULO - Estou no mercado de trabalho faz 43 anos ininterruptos,
sem ter ficado um segundo que seja
desempregado, com salários sempre
dignos e, ainda por cima, fazendo o
que gosto.
Duvido que haja prova mais contundente da excelência da educação
que recebi na "minha" escola. E a
"minha" escola sempre foi pública.
Na maior parte do tempo, o Instituto
de Educação Fernão Dias Paes, no
bairro de Pinheiros, zona oeste.
O "Fernão" era "top" de linha em
uma época, 40 ou 50 anos atrás, em
que a escola pública, em geral, era
centro de excelência.
Hoje, vejo o resultado do Enem, e o
"Fernão" já não é "top" nem entre as
escolas públicas (está em 33º lugar).
Na classificação geral, então, humilha o silencioso orgulho que sinto pela herança fantástica que dele recebi:
é o 412º colocado.
Como conseguiram avacalhar "minha" escola conta um pouco da história do apartheid cordial que é o Brasil. No meu tempo, não havia pobres
no "Fernão". Nem ricos. Era a classe
média-média de um bairro idem.
Veio a massificação do ensino,
abriram-se as portas da casa grande,
digo da escola, para os mais pobres,
mas derrubaram, simultaneamente,
a qualidade do ensino.
No "meu Fernão", aprendíamos,
além do português, latim, inglês,
francês e espanhol. Dona Maria Rita
-e só ela, sem reforço das Alianças
Francesas da vida- me ensinou um
francês que não me dará jamais vaga
na Academia Francesa, mas me permite ler sem percalços o "Monde", fazer perguntas (e entender as respostas) do presidente Chirac em entrevistas coletivas e até dar entrevista
para a TV do Canadá francófono.
Hoje, aluno do "Fernão" já não tem
aula de francês e, pior, não aprende
português, a julgar pela classificação
obtida.
Como não há substituto para a escola pública no ensino de massa, ou
devolvem o "meu Fernão" ou seremos a mediocridade que somos pelo
resto da vida.
@ - crossi@uol.com.br
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