São Paulo, quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Os Rolling e o Senhor do Bonfim

RIO DE JANEIRO - Não farei parte dos 2 milhões de fãs dos Rolling Stones que se espremerão nas areias de Copacabana para assistir o show daqueles artistas já combalidos pela idade e pelo repertório. Aliás, alguns jornais afirmam que não serão 2 milhões, apenas 1 milhão, cifra modesta para um megaevento, mas gente pra burro no meu entender.
Não compreendo como os institutos de pesquisa eliminam, numa simples linha de texto, 1 milhão de pessoas. No último show pirotécnico do Réveillon, alguns jornais e revistas garantiram que havia na praia 3 milhões de pessoas, a cifra foi baixando até insignificante 1,5 milhão. É uma hecatombe de informação, um holocausto midiático.
Mas vamos ao que interessa. As autoridades sanitárias estão achando insuficientes os banheiros químicos à disposição do milhão ou dos 2 milhões de fãs dos Rolling Stones. Imagino que num show de pelo menos 45 minutos, haverá gente que, por um motivo ou outro, precisará apelar para os banheiros químicos ou não, havendo a suja possibilidade de usar as areias ou o mar para a mesma finalidade -e reconheço que, apesar de tanta gente necessitada, o oceano Atlântico será bastante para a emergência.
Lembro que, numa das vezes em que o grupo esteve no Rio, no dia em que ia embora, os fãs estavam aglomerados diante do hotel que o hospedava, pedindo, que digo eu?, clamando pela presença de um dos elementos da banda, que ao menos um deles surgisse por meio minuto na varanda e acenasse para a multidão.
Após duas ou três horas de apelos emocionados, parece que o baterista, ou outro qualquer, dignou-se a aparecer na sacada. Sem saudar a plebe, atirou um pé de meia que provavelmente não coube na mala que estava fechando.
Lá embaixo, saiu tapa e bofetão na disputa pela preciosidade, pela relíquia. E tem gente que acha um atraso abominável o baiano colocar uma fitinha do Senhor do Bonfim no pulso.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: "Melhor candidato"
Próximo Texto: Demétrio Magnoli: Gangues do Haiti
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.