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CARLOS HEITOR CONY
Pais e filhos
RIO DE JANEIRO - Pesquisa divulgada há pouco, dessas que ouvem milhares de pessoas de diferentes classes econômicas e sociais,
procurou entender (ou explicar) as
causas e efeitos que separam as gerações. Não se tratou do eterno
conflito que sempre existiu entre
velhos e moços atuando no interior
da sociedade humana. O universo
pesquisado foi o lar, a família, os
pais e os filhos. De forma emblemática, eles representam o conflito
entre o velho e o novo, mas há detalhes próprios dessa luta na célula
familiar.
A novidade desta vez é que o mal-estar entre as gerações que vivem
sob o mesmo teto e repartem a mesma mesa é apenas um mal-entendido cultural de ambas as partes. Os
pais acham que os filhos, por serem
jovens, são necessariamente felizes, têm tudo da vida, tudo podem
esperar do mundo. Os filhos acham
que os pais, por representarem o
poder, são necessariamente felizes,
porque chegaram lá.
Acontece que nem os filhos são
obrigatoriamente felizes nem os
pais estão obrigatoriamente realizados. Os filhos reclamam das cobranças paternas. Os pais acreditam que os filhos não reconhecem o
valor (e o preço) do lar constituído,
da comida na mesa todos os dias.
Bastaria um olhar mais profundo
de um grupo sobre o outro para desmanchar o equívoco. Nem os filhos
precisam invejar os pais pelo poder
nem os pais precisam ficar despeitados porque os filhos têm a vida toda à frente deles.
O que salva a situação, pelo menos em alguns casos menos dramáticos, é o amor entre pais e filhos, e
não o simples dever de colocar feijão todos os dias na mesa, para os
pais, nem o respeito que os filhos
devem ter por quem os sustenta. O
amor nunca será a soma de iguais.
Será sempre mais amor quando forem diferentes.
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