São Paulo, terça-feira, 16 de março de 2004

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BUSH E A ESPANHA

O triunfo dos socialistas na Espanha traz conseqüências ambíguas para o presidente dos EUA, George W. Bush. De um lado, a Casa Branca marcou pontos ao ver confirmados seus mais sombrios prognósticos acerca do terrorismo islâmico. De outro, Bush perde, com a derrota do Partido Popular (PP) de José María Aznar, um de seus mais fiéis aliados na invasão do Iraque.
No cômputo geral, o resultado tende a ser mais negativo do que positivo para Washington. O futuro premiê, José Luis Rodríguez Zapatero, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), já anunciou sua disposição de retirar os 1.300 homens que Madri mantém no Iraque. Disse que considera a participação da Espanha na operação bélica que depôs Saddam Hussein "um erro" e que as tropas ibéricas só permanecerão na hipótese de as Nações Unidas assumirem o comando das forças multinacionais no Iraque.
É verdade que os 1.300 soldados espanhóis não representam muito em termos estritamente militares. Eles são apenas 1% das forças estrangeiras no Iraque. Mesmo assim, é grande o impacto simbólico da retirada, que tende ainda a ser reforçado pela idéia -já disseminada- de que os países que mais se aproximaram de Bush, como Reino Unido e Itália, correm maior risco de atentados.
É bastante possível, portanto, que, no plano internacional, cresçam as reservas em relação às políticas dos EUA. Apesar desse revés, no plano doméstico, sobretudo na propaganda eleitoral, Bush deverá usar os atentados de Madri como uma prova de que o terrorismo segue ativo e precisa ser combatido por todos os meios. O vice-presidente, Dick Cheney, já andou afirmando que este é um momento de insegurança global e que situações como essa não são propícias à troca de liderança.
É cedo para dizer se o eleitor vai aceitar esse discurso ou se, como é mais freqüente, votará com os olhos voltados para a economia americana, não para a geopolítica global.


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