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CLÓVIS ROSSI
A vida e a morte
MADRI - Há alguma coisa errada na lógica que se tornou predominante a
respeito dos atentados em Madri e
dos resultados eleitorais.
Diz a lógica que o governo do conservador José María Aznar perdeu
uma eleição que quase todo o mundo
dava por ganha porque os eleitores
repudiaram nas urnas o fato de Aznar ter entrado na Guerra do Iraque,
o que, por sua vez, atraiu a ira do radicalismo islâmico.
Deve ter acontecido isso mesmo,
mas o erro está em que, levada ao limite, tal lógica significaria que, se
não tivesse havido a invasão do Afeganistão e do Iraque, a Al Qaeda ou
alguma de suas franqueadas não teria atacado.
Por condenáveis que sejam -e
são- as ações no Iraque e no Afeganistão, é preciso lembrar a cronologia
exata: o ataque da Al Qaeda aos Estados Unidos se deu antes, não depois
do Afeganistão e do Iraque.
Pode-se, portanto, condenar o unilateralismo e a prepotência americana. Mas não se pode, daí, saltar para
a conclusão de que o Ocidente estaria
livre do terrorismo islâmico radical se
os EUA e seus aliados ficassem quietinhos no seu canto. Tampouco seria
razoável imaginar que, se a guerra
no Iraque tivesse sido aprovada pela
ONU, mesmo por unanimidade, o
terrorismo a aceitaria.
Aqui, um parêntesis: o próprio líder
socialista espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, tentou ontem desmentir a ligação guerra/resultado
eleitoral ao dizer que, antes dos atentados, "havia ganas de mudança na
Espanha".
Voltemos ao terrorismo. A condenação ao unilateralismo norte-americano e a seus aliados subservientes é
merecida, mas não muda um dado
da realidade: há um tipo de terrorismo com o qual o mundo não sabe lidar, com ou sem unilateralismo.
Uma frase contida na fita de vídeo
em que a Al Qaeda assume os atentados em Madri diz: "Vosotros queréis
la vida y nosotros queremos la muerte" (uso a tradução da polícia).
É essa a chave. Ou se decifra ou ainda vai devorar muita gente. Pior:
gente inocente.
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