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ELIANE CANTANHÊDE
A praga
BRASÍLIA - "Os ratos vão começar a abandonar o porão", previu há uma
semana o presidente do PFL, Jorge
Bornhausen, em entrevista à Folha,
ao analisar os efeitos políticos do caso
Waldomiro. Referia-se à possível debandada de aliados do governo.
Agourento esse Bornhausen. Exatamente uma semana depois, o PL,
partido que não é só aliado como deu
a Lula o seu vice, fecha o cerco: o líder
no Senado, Magno Malta (PL), é autor do pedido da CPI dos bingos; o vice Alencar saiu da mesmice de condenar a política de juros para admitir que é a favor da CPI; e o próprio
presidente do partido, Valdemar
Costa Neto, vem a público com o "fora, Palocci!". Assim não dá.
O pior é que, se o PL fizer o caminho
do PDT e pular fora da base governista, a tendência é o PMDB integrar a
chapa de Lula na reeleição de 2006.
Mas, se a lealdade do PL não é nenhuma Brastemp, confiar no PMDB
é uma temeridade. É só ver o resultado da convenção de domingo.
O lado governista do PMDB acaba
de ganhar os ministérios dos Transportes e da Previdência e é quem
manda no Senado, para sorte de Lula
(imagine se ele fosse depender do
PT?!). Mas quem venceu a convenção
foi o outro lado, que é quase-talvez-quem sabe oposicionista. O próprio
presidente reeleito, Michel Temer, é
independente. O que, nesses casos,
costuma significar: pode pender para
o governo ou contra o governo, dependendo do andar da carruagem.
É assim que, além de segurar Dirceu, evitar a contaminação de Palocci, consertar os erros do PT e, de vez
em quando, governar, Lula vai ter
que atacar uma outra frente: garantir sua base de apoio, que parecia a
maior e mais sólida do planeta, mas
que começa a dar sinais de que pode
se esfarelar. O PDT já está de tititi
com PFL e PSDB (ontem mesmo Brizola se encontrou com Serra), o PPS
vive criticando, o PSB é pequeno, o
PL mostra as garras e o PMDB pode
ser tudo, menos confiável.
Ou Lula engole a crise ou a crise engole seus principais aliados. Como
criticá-los, se quem atira a primeira
pedra é justamente o PT?
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