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SERGIO COSTA
Um tiro no pé
RIO DE JANEIRO - Um soldado deu um tiro no próprio pé no teatro de
operações da Rocinha. Não poderia
haver cena mais simbólica para a última ação do Exército antes da apresentação das armas roubadas de um
quartel no dia 3.
"Um tiro no pé" poderia ser o título
de uma peça que começou aplaudida
em cena aberta por boa parte do público, mas descambou para a farsa
com as revelações do repórter Raphael Gomide, ontem na Folha.
Na segunda-feira, véspera do encontro oficial dos dez fuzis e da pistola, Gomide teve acesso ao "texto" que
seria interpretado no dia seguinte.
Havia descoberto que as armas roubadas estariam com o Exército desde
domingo. Tinha detalhes de como foi
o resgate.
Soube também que a recuperação
envolvia negociação com traficantes
do CV (Comando Vermelho) e que
os fuzis apareceriam na terça à tarde, após uma grande operação na
Rocinha, dominada pela rival ADA
(Amigo dos Amigos), marcada para
as 10h do mesmo dia.
Assim aconteceu: o repórter chegou
à Rocinha por volta das 9h. Às 10h07,
depois de um desfile em comboio de
30 veículos pelas ruas da zona sul,
400 homens se instalaram na favela.
No início da noite, depois que saíram
da Rocinha, chegou a nota do Comando Militar do Leste informando
que as armas haviam sido encontradas.
À noite, no Palácio Duque de Caxias, sede do CML, os fuzis foram
apresentados enfileirados no chão,
no nível adequado para o fim de
uma ação em que alguns militares
adotaram a mesma tática rasteira de
certos policiais do Rio. Quando precisam sair da linha de tiro da opinião pública, vão até o estado paralelo, negociam um pacto e alguém
para pagar o pato.
A diferença é que, desta vez, descobriu-se o fim antes da história acabar. Tiveram que descer o pano rapidamente.
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