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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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A NOVA BASE

Dado o seu histórico, o PMDB até que resistiu bastante ao assédio para integrar a base que dá sustentação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva -já se vão quase seis meses desde o pleito que definiu qual seria o sucessor de Fernando Henrique Cardoso.
Uma acidentada negociação entre o Planalto e o partido transcorreu até que a novela chegasse a seu desfecho. Lula logrou ampliar a sua coalizão parlamentar com a presença da grande maioria dos peemedebistas. Com isso, abre-se uma nova porta para que deputados e senadores de legendas hoje na oposição, beneficiando-se de um erro lamentável da legislação, abriguem-se à sombra mais generosa do governismo.
Para os objetivos parlamentares que o governo persegue, a adesão do PMDB é valiosa. As propostas de reforma previdenciária e tributária, no Congresso, necessitarão do endosso -a dar-se em dois turnos em cada uma das Casas legislativas- de três em cada cinco (60%) congressistas.
As contas, agora, melhoraram para Lula. O presidente deverá ter ascendência sobre uma bancada de 325 deputados (64%) e 53 senadores (66%).
Os senões da atração do PMDB são de duas ordens. Em primeiro lugar, por mais que haja a decisão maciça de compor a base lulista, o PMDB continua a ser, dentre as grandes legendas brasileiras, a de caráter mais fragmentário. Está longe de ser um partido político na acepção clássica do termo. Trata-se de uma agremiação heterogênea de caciques regionais que pouco se presta a discussões substantivas sobre políticas públicas. Funciona como um "exército parlamentar de reserva", sempre disposto a renegociar, no varejo, os termos de sua adesão ao governismo. Essa característica demandou muito "jogo de cintura" do governo FHC e pode voltar a manifestar-se, principalmente se e quando a popularidade de Lula arrefecer.
O outro efeito colateral da presença do PMDB na base é que ela representa um aumento inevitável do grau de fisiologismo na coalizão governista. Não será surpresa -mas será lamentável- se o profundo revisionismo por que passa a cartilha petista vier a tocar, num futuro próximo, a imagem que muitos ainda preservam do PT: a de manter-se como uma espécie de paladino da ética na política brasileira.


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