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CLÓVIS ROSSI
Cúmplices. E impunes
BUENOS AIRES - O vexame proporcionado por Carlos Saúl Menem crava o último prego no caixão do trio
de ouro do Consenso de Washington
na América Latina no início dos 90.
Menem é forçado, pela rejeição popular, a desistir de um segundo turno. O peruano Alberto Fujimori está
no exílio dourado no Japão. Fernando Collor de Mello não consegue nem
eleger-se governador de seu Estado
(Alagoas).
São três ausências que preenchem
uma lacuna, felizmente.
É a prova irrefutável de que a fórmula ou é um fracasso ou, no mínimo, é imensamente insuficiente para
as necessidades da região.
Não me venham os adeptos do
Consenso e os perfeitos idiotas do
neoliberalismo dizer que a fórmula
não foi aplicada corretamente.
Se alguém vende um pacote de dez
medidas como elixir da felicidade
eterna, se um dado governo aplica oito ou nove das medidas e, em vez de
melhorar, ou ao menos deixar as coisas como estavam, só consegue piorar
a vida das pessoas, é porque houve,
no mínimo, propaganda enganosa.
No caso da Argentina, é bem pior
que isso. Basta passear pelas ruas de
Buenos Aires e ver a quantidade de
pobres e pedintes em um país que, ao
contrário do Brasil, sempre os teve
em pequena quantidade. É crime.
A turma do Consenso diz que não,
ele não recomendava o câmbio fixo,
que seu menino de ouro, Carlos Menem, aplicou por oito de seus dez
anos de gestão. É verdade, mas é
igualmente verdade que:
1 - O resto do pacote recomendado
por Washington deveria ter ao menos amenizado o drama provocado
pela insanidade do câmbio fixo.
2 - Ninguém, do Consenso, teve a
decência básica de dar um telefonemazinho para Menem para dizer:
olha, companheiro, esse troço não faz
parte da receita e vai terminar em
uma baita crise.
Ao contrário, todos, inclusive o
FMI, estenderam tapete vermelho
para Menem.
São cúmplices. E impunes.
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