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São Paulo, sexta-feira, 16 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Cúmplices. E impunes

BUENOS AIRES - O vexame proporcionado por Carlos Saúl Menem crava o último prego no caixão do trio de ouro do Consenso de Washington na América Latina no início dos 90.
Menem é forçado, pela rejeição popular, a desistir de um segundo turno. O peruano Alberto Fujimori está no exílio dourado no Japão. Fernando Collor de Mello não consegue nem eleger-se governador de seu Estado (Alagoas).
São três ausências que preenchem uma lacuna, felizmente.
É a prova irrefutável de que a fórmula ou é um fracasso ou, no mínimo, é imensamente insuficiente para as necessidades da região.
Não me venham os adeptos do Consenso e os perfeitos idiotas do neoliberalismo dizer que a fórmula não foi aplicada corretamente.
Se alguém vende um pacote de dez medidas como elixir da felicidade eterna, se um dado governo aplica oito ou nove das medidas e, em vez de melhorar, ou ao menos deixar as coisas como estavam, só consegue piorar a vida das pessoas, é porque houve, no mínimo, propaganda enganosa.
No caso da Argentina, é bem pior que isso. Basta passear pelas ruas de Buenos Aires e ver a quantidade de pobres e pedintes em um país que, ao contrário do Brasil, sempre os teve em pequena quantidade. É crime.
A turma do Consenso diz que não, ele não recomendava o câmbio fixo, que seu menino de ouro, Carlos Menem, aplicou por oito de seus dez anos de gestão. É verdade, mas é igualmente verdade que:
1 - O resto do pacote recomendado por Washington deveria ter ao menos amenizado o drama provocado pela insanidade do câmbio fixo.
2 - Ninguém, do Consenso, teve a decência básica de dar um telefonemazinho para Menem para dizer: olha, companheiro, esse troço não faz parte da receita e vai terminar em uma baita crise.
Ao contrário, todos, inclusive o FMI, estenderam tapete vermelho para Menem.
São cúmplices. E impunes.


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