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MARCELO BERABA
O papel da polícia
RIO DE JANEIRO - Por que o Rio de Janeiro, diferentemente de outras
grandes cidades que também têm alto consumo de drogas, chegou a este
ponto de completo descontrole na segurança? São várias as causas, mas
uma se destaca: a total falência do
aparelho policial.
O caso da universidade Estácio de
Sá, onde uma aluna foi baleada no
dia 5, ajuda a entender como trabalha a nossa polícia e por que vivemos
sob o império do crime.
De acordo com as primeiras declarações da polícia e do governo, traficantes do morro do Turano teriam
atirado em direção ao campus em represália à ação da PM no morro. Policiais teriam extorquido dinheiro
dos traficantes e matado um deles.
Dois moradores estavam desaparecidos. Para pegar o bandido que atirou
na universitária, a polícia ocupou o
morro do Turano e favelas próximas,
invadiu o morro do Zinco e matou
oito pessoas no morro da Mineira.
A informação da extorsão era verdadeira e nove PMs foram presos.
Mas a versão da origem do tiro, sustentada durante quatro dias, desabou quando os médicos extraíram a
bala da coluna da universitária e
constataram que era de pistola, e não
de fuzil. Polícia e governo admitiram,
então, que o tiro foi disparado de
dentro da universidade, e não do
morro. Ou seja, se os médicos não tivessem extraído a bala, a polícia estaria até hoje castigando as favelas.
Só na sexta passada, quatro dias
após o crime, a polícia descobriu que
a universidade tinha um circuito interno de TV e gravava as imagens. A
reconstituição do crime só foi feita
dois dias depois. E foram mais dois
dias para descobrir que as fitas de vídeo estavam adulteradas e não continham as imagens do momento do tiro. A quem tentam proteger? A hipótese mais provável, agora, é que o criminoso tenha sido um policial.
Ou seja, o caso começa e termina na
Secretaria de Segurança. É a polícia
agindo como bandido (na extorsão),
é a polícia despreparada e negligente
na investigação, é a polícia suspeita
de ter atirado num inocente.
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