São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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É PRECISO CRESCER

A volatilidade dos mercados financeiros, motivada pela perspectiva de elevação dos juros nos EUA, alimenta dúvidas sobre a conveniência de o Banco Central promover, neste mês, novo corte na taxa básica. A subida do dólar, aliada a sinais de aumento de preços no atacado e à cotação recorde do petróleo, fornece argumentos a favor de uma posição mais cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidirá na quarta-feira a taxa para as próximas quatro semanas.
Ainda que esses fatores mereçam atenção, parece prevalecer entre analistas de variadas tendências a avaliação de que, hoje, o risco de uma escalada inflacionária na economia brasileira é infinitamente menor do que aquele representado pela manutenção de uma política de juros elevados, que resulta em desestímulo ao crescimento e pressão sobre a dívida pública -além de dificultar a redução dos altos índices de desemprego. As autoridades econômicas brasileiras têm insistido, em sintonia com o cânone econômico dominante, na importância de reduzir a atual relação entre a dívida e o PIB, o que reforçaria, aos olhos dos mercados, a percepção de que o país é solvente. Se esse objetivo for atingido, a tendência é o "prêmio" pago pelos títulos brasileiros diminuir, o que facilitaria a redução da taxa de juros.
O principal instrumento que vem sendo utilizado pelo governo para conquistar a confiança dos mercados é o cumprimento de metas fiscais. Em acordo com o FMI, o país comprometeu-se a gerar superávits primários em suas contas de 4,25% do PIB ao ano. Todavia tamanho esforço, que produz efeitos colaterais negativos sobre a capacidade de investimento do poder público em áreas cruciais, como a infra-estrutura, não tem resultado no pretendido declínio da relação dívida-PIB. Quanto a isso, os juros têm papel fundamental, pois taxas mais altas aumentam a dívida e dificultam o crescimento do PIB.
Não são novidade para os brasileiros situações em que as autoridades repetem que os fundamentos econômicos são saudáveis, sem obter, no entanto, o endosso dos mercados. Se responsabilidade fiscal e inflação bem comportada são fundamentais, é preciso ver que, num país com as carências e o grau de endividamento do Brasil, o crescimento é fator essencial. Firmar a crença de que a economia irá crescer é fundamental para estabelecer confiança.
Nesse sentido, um recuo do BC na próxima reunião do Copom poderá ter efeito bastante negativo sobre as expectativas, pois sancionaria o pessimismo que vai rondando os mercados ao mesmo tempo em que abalaria as perspectivas de uma recuperação econômica mais robusta.
Os dados mais recentes da inflação norte-americana sugerem que a elevação da taxa de juros naquele país não será nem muito significativa nem imediata. Seria lamentável se o BC perdesse a oportunidade de novamente reduzir os juros, num momento em que tal decisão seria não apenas possível como desejável.



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