São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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VALDO CRUZ

Manual trocado

BRASÍLIA - Todo governo que se preze deveria ter à mão um bom manual de gerenciamento de crises. Fernando Henrique Cardoso, durante seus dois mandatos, deu mostras de que leu, releu, decorou e colocou em prática um de excelente qualidade.
Tudo indica, porém, que levou consigo seu manual preferido quando esvaziou suas gavetas no Palácio do Planalto. Ou deixou-o escondido em alguma estante, empoeirado, longe do alcance dos olhos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Afinal, desde o início deste ano, o que se vê dentro do Planalto é uma usina de confusões. Se há um manual sendo lido por Lula, com certeza ele deve prescrever dicas de como gerar e incendiar uma crise.
O pior é que 2004 tinha tudo para ser um excelente ano. Inflação controlada, contas externas no azul, superávit da balança comercial em alta. Mas, desde janeiro, o governo patina, patina e patina.
Ficou quase paralisado em janeiro por causa da reforma ministerial. Em fevereiro, experimentou uma fase de letargia com o escândalo Waldomiro Diniz. Depois, a base aliada quase se partiu e a oposição derrotou o governo petista no Senado.
Agora, Lula transforma um caso menor numa baita de uma crise, arranhando profundamente sua imagem. Quem acha que "tudo bem, o Lula é assim mesmo", deveria conversar melhor com a turma da economia.
Na quinta-feira, auge do caos gerado pela reportagem do "New York Times", investidores ligavam preocupados, temerosos com o ambiente político reinante no Brasil.
Talvez muita gente no governo não perceba, mas estamos num período de turbulências. As coisas vão ficar bem mais difíceis. Poderíamos estar mais bem preparados para enfrentar esse momento, mas o governo perdeu muito tempo batendo cabeça.
Antes que seja tarde, os conselheiros do presidente poderiam providenciar logo um bom manual para Lula. Não precisam ir muito longe. Basta buscar um exemplar no gabinete do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça).


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