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BORIS FAUSTO
Beco sem saída
Quais as possibilidades de que tenha êxito o plano de paz proposto pelos Estados Unidos mais a ONU,
a UE e a Rússia para resolver o confronto entre israelenses e palestinos?
A resposta só pode ser pessimista,
não tanto pelo fato de que o plano represente uma quase reprodução das
fracassadas tentativas anteriores e deixe no ar as questões mais delicadas,
mas simplesmente porque mesmo
seus primeiros passos parecem ser inviáveis. Isso se deve aos limites de ação
das partes envolvidas, à sua insinceridade ou à sua ilegitimidade, conforme
o caso.
O papel do governo Bush, para começar, é uma novidade contraditória.
A guerra do Iraque demonstrou a força militar arrasadora dos Estados Unidos. Porém, ao mesmo tempo, introduziu no mundo árabe inquietações
sobre o novo desenho do mundo, traçado sem disfarces pela Casa Branca.
Além disso, Bush vê-se limitado internamente tanto pelo lobby judaico como por seus amigos da extrema direita fundamentalista, ligados a Israel,
como parte de sua mitologia teológica.
Olhando as forças diretamente envolvidas, o pessimismo cresce. Concebido como um processo que se estenderia ao longo dos anos, o caminho da
paz pressupõe medidas que o governo
de Ariel Sharon não pretende nem pode tomar. Exemplificando: o objetivo
último de constituição de um Estado
palestino independente, com fronteiras estáveis e espacial e economicamente viável, passa pelo gradativo
desmantelamento das colônias estabelecidas em território palestino.
Sharon teria de deixar de ser Sharon
para empreender essa complicada tarefa, que envolve em torno de 200 mil
colonos na Cisjordânia e em Gaza.
Mesmo que se transfigurasse, acabaria
sendo liquidado por seu próprio partido (Likud) e pela extrema direita religiosa ou laica. Convém lembrar, de
passagem, que os trabalhistas, caso algum dia cheguem ao poder, não se
comportariam de forma muito diferente -pelo menos com a sua atual
direção.
Do outro lado, a escolha do moderado Abu Mazen para o cargo de primeiro-ministro do governo palestino não
suscita maiores esperanças. O problema, nesse caso, não parece ser a ausência de disposição a um real entendimento, mas a falta de representatividade do ministro, sabotado por Iasser
Arafat -que espera ressurgir na crise- e ridicularizado pelas costumeiras grosserias e bravatas de Sharon.
A precária posição de Abu Mazen ficou demonstrada nos dias que correm
pelo fracasso da tentativa de incluir as
organizações de luta armada nas negociações de paz, resultando no círculo infernal de atentados e de retaliações, hoje em uma nova e mais grave
etapa. De resto, se as organizações terroristas são responsáveis por inúmeras ações sangrentas, é certo também
que o comportamento de sucessivos
governos israelenses dá argumentos e
lastro social para essas ações.
Um fosso se aprofundou entre os
dois povos sem que haja perspectiva
de mudança no quadro. No seu simbolismo, o extenso muro segregador,
feito de concreto, que Israel está construindo na Cisjordânia revela quão
distante estamos de uma paz baseada
na boa-fé recíproca e no entendimento.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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