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São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2003

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MARCELO BERABA

Eles faliram, nós pagamos

RIO DE JANEIRO - No início de abril do ano passado, cariocas e fluminenses acompanharam, incrédulos, mais uma saraivada de baixarias entre o então governador Anthony Garotinho (PSB) e a então vice-governadora Benedita da Silva (PT).
Garotinho, que deixava o governo para disputar a Presidência, garantia que entregava os cofres do Estado recheados, com R$ 740 milhões, e as finanças saneadas. Bené substituiu-o e informou, poucos dias depois da posse, que tinha encontrado apenas R$ 38 milhões em caixa e um déficit projetado para o ano de R$ 1,36 bilhão.
Um dizia que o Estado estava muito bem; a outra, que estava falido. Em quem confiar? Era evidente a falta de compromisso, dos dois lados, com a informação correta. Os números, esgrimidos como verdades irrefutáveis, não podiam ser comprovados.
Embora a Constituição garanta a qualquer cidadão, e não apenas aos jornalistas, o direito de acesso a informações públicas -e nada mais lógico, se concordamos que são deveres do servidor, no regime democrático, a transparência de seus atos e a prestação de contas-, na prática isso é letra morta.
Os governos adoram fazer auto- promoção. Mas as informações que interessam são corriqueiramente escondidas ou manipuladas. Essa é a mentalidade predominante.
No caso das finanças do Rio, o TCE acaba de reprovar as gestões de Garotinho e de Benedita. O rombo que deixaram era maior do que se supunha, tanto nos quatro meses governados por Garotinho (déficit financeiro de R$ 248 milhões) como ao longo do ano (R$ 2 bilhões).
O curioso é que nenhum dos dois assume a responsabilidade pelo desastre financeiro e por seus danos. Antes, posavam como donos da verdade; agora, agem como se não fosse com eles. Confiam que seus próximos juizes, os deputados, transformarão uma acusação simples (gastaram, e mal, mais do que podiam) numa discussão tão complexa e confusa que será impossível definir culpa.


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