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MARCELO BERABA
Eles faliram, nós pagamos
RIO DE JANEIRO - No início de abril do ano passado, cariocas e fluminenses acompanharam, incrédulos, mais
uma saraivada de baixarias entre o
então governador Anthony Garotinho (PSB) e a então vice-governadora Benedita da Silva (PT).
Garotinho, que deixava o governo
para disputar a Presidência, garantia
que entregava os cofres do Estado recheados, com R$ 740 milhões, e as finanças saneadas. Bené substituiu-o e
informou, poucos dias depois da posse, que tinha encontrado apenas R$
38 milhões em caixa e um déficit projetado para o ano de R$ 1,36 bilhão.
Um dizia que o Estado estava muito bem; a outra, que estava falido.
Em quem confiar? Era evidente a falta de compromisso, dos dois lados,
com a informação correta. Os números, esgrimidos como verdades irrefutáveis, não podiam ser comprovados.
Embora a Constituição garanta a
qualquer cidadão, e não apenas aos
jornalistas, o direito de acesso a informações públicas -e nada mais lógico, se concordamos que são deveres
do servidor, no regime democrático,
a transparência de seus atos e a prestação de contas-, na prática isso é
letra morta.
Os governos adoram fazer auto-
promoção. Mas as informações que
interessam são corriqueiramente escondidas ou manipuladas. Essa é a
mentalidade predominante.
No caso das finanças do Rio, o TCE
acaba de reprovar as gestões de Garotinho e de Benedita. O rombo que
deixaram era maior do que se supunha, tanto nos quatro meses governados por Garotinho (déficit financeiro de R$ 248 milhões) como ao
longo do ano (R$ 2 bilhões).
O curioso é que nenhum dos dois
assume a responsabilidade pelo desastre financeiro e por seus danos.
Antes, posavam como donos da verdade; agora, agem como se não fosse
com eles. Confiam que seus próximos
juizes, os deputados, transformarão
uma acusação simples (gastaram, e
mal, mais do que podiam) numa discussão tão complexa e confusa que
será impossível definir culpa.
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