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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Geraldo Kassab
SÃO PAULO - Como ainda não se
pode chegar com segurança a Marte, o governador José Serra inventou uma viagem ao Japão, a pretexto de assinar convênios para o Estado. Tóquio foi o lugar mais distante
que conseguiu se manter da convenção partidária que anteontem
oficializou, aqui mesmo em São
Paulo, a candidatura à prefeitura de
Gilberto Kassab (DEM), seu pupilo.
Bastaria essa disposição -ou dispersão- geográfica dos personagens para caracterizar o imbróglio,
o mal-estar e o potencial explosivo
da situação do governador na campanha que apenas começa.
Só no Extremo Oriente, onde
noite e dia invertem seus sinais, o
padrinho busca se esquivar da cerimônia de lançamento do afilhado
político. Mas envia, na caravana da
claque tucano-kassabista, o seu vice, Alberto Goldman, lá para representá-lo. Não poderia ter desempenhado o papel com brilho maior.
Entre Quércia e Kassab no palanque, mas coadjuvante na condição
de porta-recados da estrela ausente, Goldman era o personagem ideal
para protagonizar a trapalhada da
festa (e da aliança que é, mas não é).
O vice fez carreira ao lado de
Quércia quando este e o PSDB romperam; sempre à sombra do poder,
bandeou em 97 para o ninho tucano, onde Quércia agora também
trata de arrumar seu espaço.
Eis que este velho comunista toma a palavra na convenção para
saudar, como um títere, o candidato
liberal: "Estamos aqui consolidando a candidatura de Geraldo Alckmin..., desculpem, de Gilberto Kassab", disse Goldman, vaiado. Tropeçou de novo logo a seguir, em grande estilo: "Trago a saudação do governador José Serra ao companheiro Geraldo Kassab". Mais vaias.
"Geraldo Kassab", o monstrengo
criado por Serra e à sua revelia, é o
ato falho perfeito, infeliz -ou feliz,
a depender dos ouvidos- como
poucos, que traz à tona numa única
expressão, para falar na língua de
Freud, todo o conteúdo latente que
se queria preservar reprimido.
Serra está no Oriente? Não tem
problema. Goldman explica.
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