São Paulo, segunda-feira, 16 de junho de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Geraldo Kassab

SÃO PAULO - Como ainda não se pode chegar com segurança a Marte, o governador José Serra inventou uma viagem ao Japão, a pretexto de assinar convênios para o Estado. Tóquio foi o lugar mais distante que conseguiu se manter da convenção partidária que anteontem oficializou, aqui mesmo em São Paulo, a candidatura à prefeitura de Gilberto Kassab (DEM), seu pupilo.
Bastaria essa disposição -ou dispersão- geográfica dos personagens para caracterizar o imbróglio, o mal-estar e o potencial explosivo da situação do governador na campanha que apenas começa.
Só no Extremo Oriente, onde noite e dia invertem seus sinais, o padrinho busca se esquivar da cerimônia de lançamento do afilhado político. Mas envia, na caravana da claque tucano-kassabista, o seu vice, Alberto Goldman, lá para representá-lo. Não poderia ter desempenhado o papel com brilho maior.
Entre Quércia e Kassab no palanque, mas coadjuvante na condição de porta-recados da estrela ausente, Goldman era o personagem ideal para protagonizar a trapalhada da festa (e da aliança que é, mas não é).
O vice fez carreira ao lado de Quércia quando este e o PSDB romperam; sempre à sombra do poder, bandeou em 97 para o ninho tucano, onde Quércia agora também trata de arrumar seu espaço.
Eis que este velho comunista toma a palavra na convenção para saudar, como um títere, o candidato liberal: "Estamos aqui consolidando a candidatura de Geraldo Alckmin..., desculpem, de Gilberto Kassab", disse Goldman, vaiado. Tropeçou de novo logo a seguir, em grande estilo: "Trago a saudação do governador José Serra ao companheiro Geraldo Kassab". Mais vaias.
"Geraldo Kassab", o monstrengo criado por Serra e à sua revelia, é o ato falho perfeito, infeliz -ou feliz, a depender dos ouvidos- como poucos, que traz à tona numa única expressão, para falar na língua de Freud, todo o conteúdo latente que se queria preservar reprimido.
Serra está no Oriente? Não tem problema. Goldman explica.


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