São Paulo, terça-feira, 16 de junho de 2009

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Primavera em Teerã

CENTENAS de milhares de iranianos participaram ontem, na capital do país, do maior protesto popular em 30 anos de domínio dos aiatolás. A revolta contra o resultado oficial do pleito de sexta, que apontou a reeleição, com quase 2/3 dos votos, do presidente fundamentalista Mahmoud Ahmadinejad, desafiou o regime, que havia proibido as manifestações.
Ao que parece, depois de uma investida repressiva -que incluiu intimidação policial contra opositores, fechamento de jornais, restrição das comunicações e tentativa de banir a imprensa estrangeira-, o governo recuou. Apesar de relatos de conflitos com morte na passeata, as forças de segurança evitaram cumprir ao pé da letra o veto aos protestos, o que teria produzido um banho de sangue.
A linha dura encabeçada pelo aiatolá Ali Khamenei, em cujas mãos estão as rédeas do regime, deu outro sinal de que hesita em assumir os riscos de um confronto -apesar de setores da elite governante continuarem a defender a repressão em larga escala. O líder supremo endossara o resultado oficial no domingo, mas anuncia agora que vai apurar as denúncias de fraude eleitoral levantadas pelo principal candidato oposicionista, o ex-premiê moderado Mir Hossein Mousavi.
Dentre as peculiaridades da república clerical xiita instalada no Irã está a realização de eleições presidenciais regulares. Naquele sistema, em que o poder se concentra no círculo em torno do chefe religioso, as funções do presidente, mal comparando, são equivalentes à de primeiro-ministro.
Ao longo do tempo, contudo, as eleições tornaram-se válvula de escape para que uma disputa entre correntes políticas e sociais rivais -uma disputa tutelada pelos aiatolás- pudesse fluir sem comprometer os pilares do regime. Mas para tanto é preciso, mesmo no Irã, que o processo eleitoral seja justo e legítimo aos olhos dos competidores.
Instado pela maciça reação popular, Khamenei tenta agora encenar essa legitimação. Não está disposto, sem dúvida, a transigir no essencial, a vitória de Ahmadinejad. Resta saber até que ponto será compelido a ceder.


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