|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Primavera em Teerã
CENTENAS de milhares de
iranianos participaram ontem, na capital do país, do
maior protesto popular em 30
anos de domínio dos aiatolás. A
revolta contra o resultado oficial
do pleito de sexta, que apontou a
reeleição, com quase 2/3 dos votos, do presidente fundamentalista Mahmoud Ahmadinejad,
desafiou o regime, que havia
proibido as manifestações.
Ao que parece, depois de uma
investida repressiva -que incluiu intimidação policial contra
opositores, fechamento de jornais, restrição das comunicações
e tentativa de banir a imprensa
estrangeira-, o governo recuou.
Apesar de relatos de conflitos
com morte na passeata, as forças
de segurança evitaram cumprir
ao pé da letra o veto aos protestos, o que teria produzido um banho de sangue.
A linha dura encabeçada pelo
aiatolá Ali Khamenei, em cujas
mãos estão as rédeas do regime,
deu outro sinal de que hesita em
assumir os riscos de um confronto -apesar de setores da elite governante continuarem a defender a repressão em larga escala.
O líder supremo endossara o resultado oficial no domingo, mas
anuncia agora que vai apurar as
denúncias de fraude eleitoral levantadas pelo principal candidato oposicionista, o ex-premiê
moderado Mir Hossein Mousavi.
Dentre as peculiaridades da república clerical xiita instalada no
Irã está a realização de eleições
presidenciais regulares. Naquele
sistema, em que o poder se concentra no círculo em torno do
chefe religioso, as funções do
presidente, mal comparando,
são equivalentes à de primeiro-ministro.
Ao longo do tempo, contudo, as
eleições tornaram-se válvula de
escape para que uma disputa entre correntes políticas e sociais
rivais -uma disputa tutelada pelos aiatolás- pudesse fluir sem
comprometer os pilares do regime. Mas para tanto é preciso,
mesmo no Irã, que o processo
eleitoral seja justo e legítimo aos
olhos dos competidores.
Instado pela maciça reação popular, Khamenei tenta agora encenar essa legitimação. Não está
disposto, sem dúvida, a transigir
no essencial, a vitória de Ahmadinejad. Resta saber até que ponto será compelido a ceder.
Texto Anterior: Editoriais: Mérito comprovado Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Os "bunkers" virtuais Índice
|