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MELCHIADES FILHO
Vanguardas e atrasos
BRASÍLIA - Talvez seja cedo para
decretar a débâcle de José Sarney
ou sentenciar que o ex-presidente
da República cometeu um erro ao
reassumir a direção do Senado.
É verdade que a Casa vive momento de total descrédito, colhida
por uma avalanche sem precedentes de denúncias -de nomeações
secretas a servidores fantasmas, de
mansões ocultas a aviões fretados.
É igualmente verdade que Sarney
está afundado até o pescoço nos escândalos. A cada semana, precisa
repetir um "eu não sabia". Já teve
de pedir desculpas, divulgar seu
contracheque e devolver dinheiro.
Mas é verdade, também, que, graças à vitória de Sarney em fevereiro,
o chamado "PMDB do Senado" voltou a capturar a atenção de Lula. O
Planalto, que costuma desdenhar
do Legislativo, não poderá ignorar o
grupo que terá o controle da CPI da
Petrobras, ameaça potencial à candidatura de Dilma Rousseff.
Assim como é verdade que, da
privilegiada posição no Congresso,
o ex-presidente pôde zelar por sua
rede de influências no setor de
energia. Uma lei foi aprovada para
permitir à Eletrobrás fazer compras a toque de caixa. O sarneyzista
Edison Lobão é o ministro envolvido na regulação do pré-sal.
É verdade, ainda, que a PF ficou
mais "republicana" e diminuiu a
publicidade dos inquéritos que investigam obras nos Estados em que
o clã Sarney atua (Operação Navalha) e transações financeiras de empresas da família (Boi Barrica).
Por fim, é verdade que, desde fevereiro, o TSE julgou três governadores e beneficiou o PMDB nos três
casos. Derrotada nas urnas, Roseana levou o Maranhão no tapetão.
Como se vê, Sarney segue ocupado com o exercício do poder. É isso
que o move, não os aplausos -nunca os recebeu, nem pela transição
para a Nova República. Será uma
surpresa se entregar os pontos porque a "biografia foi manchada" pelos vícios do Senado. É mais provável que a apoplexia dos últimos dias
seja o preparo do contra-ataque.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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