São Paulo, quarta-feira, 16 de junho de 2010

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FERNANDO RODRIGUES

A falta de debates

BRASÍLIA - Democracia não é só o voto. A qualidade do processo de escolha conta também. No caso do Brasil, há obstáculos impedindo a realização livre de debates entre candidatos a presidente. Essa tem sido a regra nas últimas eleições antes do primeiro turno.
A norma é esdrúxula. Todos os candidatos a presidente cujos partidos elegeram deputados na última eleição (e ainda estejam representados na Câmara) têm o direito de ir a debates no rádio e na TV. Se um não for convidado, não pode ser realizado o encontro.
A lei liquidifica num só recipiente os políticos competitivos e os concorrentes de siglas muito modestas, na melhor das hipóteses. A profusão de nomes serve de álibi para os primeiros colocados nas pesquisas se recusarem a debater.
Em 1989, todos aceitaram participar. Era a primeira eleição para presidente pós-ditadura militar (1964-1985). Caso raro.
Em 1994 e 1998, o tucano Fernando Henrique Cardoso se recusou a ir a debates. Alegou excesso de nomes nos eventos. Em 2002, o confronto ficou congestionado entre Lula (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (então no PPS) e Anthony Garotinho (no PSB). Embora sem nanicos presentes, quatro debatedores não produziram um aceitável confronto de ideias.
Em 2006, Lula decidiu não debater no primeiro turno.
Agora, em 2010, dos 13 candidatos listados como postulantes ao Planalto, 7 têm o direito de estar presentes a debates em rádio e TV. Será um milagre um acordo para os nanicos abrirem mão de participar. Há risco de novamente os eleitores não terem a oportunidade de assistir a um bom enfrentamento dos candidatos no primeiro turno.
A única possibilidade seria os três principais concorrentes aceitarem um encontro transmitido apenas pela internet, pois a lei não impõe regras nesse caso. Só que aí eles teriam de debater. Eles querem?

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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