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FERNANDO RODRIGUES
A falta de debates
BRASÍLIA - Democracia não é só o
voto. A qualidade do processo de
escolha conta também. No caso do
Brasil, há obstáculos impedindo a
realização livre de debates entre
candidatos a presidente. Essa tem
sido a regra nas últimas eleições
antes do primeiro turno.
A norma é esdrúxula. Todos os
candidatos a presidente cujos partidos elegeram deputados na última
eleição (e ainda estejam representados na Câmara) têm o direito de ir
a debates no rádio e na TV. Se um
não for convidado, não pode ser
realizado o encontro.
A lei liquidifica num só recipiente os políticos competitivos e os
concorrentes de siglas muito modestas, na melhor das hipóteses. A
profusão de nomes serve de álibi
para os primeiros colocados nas
pesquisas se recusarem a debater.
Em 1989, todos aceitaram participar. Era a primeira eleição para
presidente pós-ditadura militar
(1964-1985). Caso raro.
Em 1994 e 1998, o tucano Fernando Henrique Cardoso se recusou a ir
a debates. Alegou excesso de nomes nos eventos. Em 2002, o confronto ficou congestionado entre
Lula (PT), José Serra (PSDB), Ciro
Gomes (então no PPS) e Anthony
Garotinho (no PSB). Embora sem
nanicos presentes, quatro debatedores não produziram um aceitável
confronto de ideias.
Em 2006, Lula decidiu não debater no primeiro turno.
Agora, em 2010, dos 13 candidatos listados como postulantes ao
Planalto, 7 têm o direito de estar
presentes a debates em rádio e TV.
Será um milagre um acordo para os
nanicos abrirem mão de participar.
Há risco de novamente os eleitores
não terem a oportunidade de assistir a um bom enfrentamento dos
candidatos no primeiro turno.
A única possibilidade seria os
três principais concorrentes aceitarem um encontro transmitido apenas pela internet, pois a lei não impõe regras nesse caso. Só que aí eles
teriam de debater. Eles querem?
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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