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RUY CASTRO
Mais brasileiros
RIO DE JANEIRO - Quando Carmen
Miranda chegou a Nova York, em
1939, contratada pelo empresário
Lee Shubert, seu inglês mal passava do "I love you" que ela ouvia nos
filmes de Joan Crawford a que assistia no Metro Passeio. Era mais do
que Carmen precisava para sua estreia na Broadway, na revista musical "Streets of Paris", quando se
consagrou cantando três números
em português e um quarto, "South
American Way", em que o único
verso em inglês era o do título.
Verde na América e ainda se atrapalhando com o som do "th", Carmen pronunciou-o "Souse American Way" -com o que, aos ouvidos
da plateia, "à maneira sul-americana" se tornou "à maneira dos americanos bêbados". A gargalhada retumbou, e a pronúncia estropiada
foi incorporada ao espetáculo mesmo depois que Carmen aprendeu a
fazer o som direito -por sinal, nada
difícil para uma cantora com o seu
ouvido.
Nos anos seguintes, Carmen dominou o inglês à perfeição e o falava sem o menor sotaque, exceto nos
filmes, em que seus papéis exigiam
o jeito "latino" de falar. Era assim
também com os franceses do cinema americano, como Charles Boyer, com os mexicanos, como Ricardo Montalban, e com os demais estrangeiros, todos obrigados a forçar
um sotaque que há muito haviam
perdido. Na Hollywood dos anos
40, só os americanos podiam falar
inglês direito.
Mas a prova de que o "th" ainda é
espeto para muitos está ressurgindo a toda hora na cobertura da Copa pela TV. É só ouvir alguém tentando pronunciar em inglês o nome
do país anfitrião, "South Africa". O
resultado é sempre "Souse Africa"
-a África de porre.
Este colunista estará ausente pelas próximas três semanas, levando
uma exposição sobre Carmen Miranda ao país do qual ela saiu aos
dez meses, em 1909 -Portugal-,
para nos tornar mais brasileiros
com seu jeito de ser e de cantar.
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