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ANTONIO DELFIM NETTO
Estado de espírito
Quando separado de suas
complexidades, o desenvolvimento econômico se resume em aumentar o estoque de capital físico (isto
é, o nível de investimento deve ser superior à depreciação), incorporar no
novo capital (resultado do investimento) novas tecnologias (resultado
da pesquisa) e aumentar o estoque de
capital humano (mais educação e
mais saúde). É a manipulação do estoque de capital físico (infra-estrutura,
energia, máquinas e equipamentos)
por um capital humano superior que
eleva o nível da produção da mão-de-obra. A esse processo cumulativo se
chama desenvolvimento. É claro que é
sempre possível qualificar essa definição com objetivos fortemente desejáveis, como a redução das desigualdades (em particular e eliminação da pobreza absoluta) e a sustentabilidade (o
respeito à conservação do ambiente),
mas isso não modifica a essência do
processo.
Vê-se, desde logo, que o desenvolvimento só pode ser obra conjunta do
setor privado e do governo. De um setor privado constituído por empresários ativos e imaginosos e capazes de
descobrir as oportunidades de investimento. De trabalhadores diligentes,
inteligentes, preparados (educação) e
hígidos (saúde). De um governo
apoiado em instituições que propiciam aos agentes econômicos a apropriação dos benefícios de sua atividade. O governo também precisa ser eficiente, o que significa o menor gasto
de custeio possível e a maior taxa de
investimento na infra-estrutura, no
capital humano e na administração da
justiça.
Normalmente, quais são os fatores
limitantes do processo de desenvolvimento? Quando toda a mão-de-obra
já está empregada, a única forma de
crescer é aumentar a sua produtividade. Isso exige a aceleração da substituição do velho estoque por capital
novo que incorpore tecnologia superior, ou seja, pelo aumento do investimento na pesquisa. Uma segunda limitação é que o aumento da produção
e da produtividade exige que se complemente a produção interna com a
importação de bens e serviços (que incorporam a tecnologia já desenvolvida no exterior). Essa importação tem
de ser paga com a exportação de parte
da produção interna. Quando a troca
se faz atendendo às condições das
vantagens comparativas, aumenta
ainda mais a capacidade de produzir
um desenvolvimento eficiente (isto é,
com aumento mais rápido da produtividade da mão-de-obra).
Mas quando se dá o surto de desenvolvimento? O esquema é "mecânico", mas o desenvolvimento é um "estado de espírito". Ele se realiza quando se desperta o "animal spirit" do
empresariado que vê um futuro promissor de bons lucros. Trata-se de um
processo infeccioso: cada novo investimento ou aumento de produção cria
condições de demanda para "outro"
investimento ou ampliação da produção, e assim por diante, cada um ampliando a sua oferta e a demanda dos
outros...
A política econômica tem de cuidar
para que a infecção não eleve a febre
(inflação) ou não produza uma hemorragia mortal (déficit em conta
corrente), porque, na emergência de
uma ou de outra, o processo tem de
ser abortado pela taxa de juro.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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