|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Direitos humanos
MÁRIO AMATO
Há necessidade de que os direitos humanos sejam interpretados
em relação aos direitos dos oprimidos,
vítimas do despotismo ao longo do
tempo e de lembrança mais recente a
partir de 1789, ou seja, da Revolução
Francesa, passando pelas monstruosidades da Segunda Guerra Mundial, do
imperialismo no Oriente e das democracias consensuais.
Os direitos humanos, do bem-viver
das sociedades civilizadas, onde se luta
contra todo o tipo de exploração, seja
cultural, financeira, educacional, estão
ameaçados. A vigilância das ONGs é indiscutível, embora ainda insuficiente
em face dos malabarismos e das nuances positivas e negativas, mas não se pode negar o avanço considerável que a
ação dessas entidades tem produzido
nos reais direitos humanos.
Uma sociedade evoluída, na qual os
princípios educacionais e comportamentais são respeitados, onde o ser humano, ao nascer, traz consigo uma herança genética, uma sociedade participativa, onde o oprimido tem sua vida
garantida por uma economia compatível com a dignidade da sua existência,
precisa e deve estar sempre vigilante,
para que possa viver com justiça e a desigualdade de conhecimento entre os
seus membros não seja obstáculo a uma
vida harmônica. Isso já acontece em alguns países.
A natureza humana, desde que respeite o império das leis e a dignidade de cada indivíduo, dando-lhe oportunidade
de crescer intelectualmente e pelo trabalho, produzindo de acordo com a sua
capacidade e acompanhando a mutação da sociedade, que acontece quando
cada um cumpre corretamente a sua
parte, sabendo utilizar o que lhe permite
o conhecimento mental e físico, é o que
todos desejamos. Não há nessa premissa nenhuma utopia. Quando uma nação atinge esse estado de bem-estar, terá
resolvido a maior parte ou a quase totalidade dos seus grandes problemas.
Essa evolução para melhor implica
uma ordem mais rigorosa e o ideal necessário para empreender ações positivas, permitindo que os direitos humanos tenham efetiva participação nas
ações sociais, compreendendo que, para grandes males, são necessários grandes remédios, quase sempre amargos. É
preciso estudar por que existem nações
com povos famintos, nas quais nada
funciona ou funciona mal em todos os
campos de atividade. A natureza nos
ensina que, quando surge uma praga,
ela tem de ser eliminada para que não
destrua o que o ser humano plantou e
precisa colher, para benefício de toda a
sociedade. O remédio está na razão direta do mal que a praga traz.
A violência de hoje em dia é uma praga que reclama um remédio forte. Ela é
fruto da desorganização da sociedade, é
uma guerra civil que não pode ser justificada, porque destrói os princípios básicos da segurança e tem como causa
uma sequência de delitos que vêm sendo cometidos, fazendo com que o Estado de Direito venha deixando de funcionar, o que provoca a flacidez que se
vem notando, nesses últimos 40 anos,
para sufocar a violência, permitindo
que o voluntarismo dê azo à corrupção,
que infesta parte já bem grande da sociedade, a começar pela educação. Isso
nos torna todos culpados, querendo ou
não, submetendo os direitos humanos
para não agir energicamente, sob o pretexto de que todos temos direitos iguais.
A violência de hoje em dia é uma praga que reclama um remédio forte. Ela é fruto da desorganização da sociedade
|
Essa tolerância só aparentemente é
democrática, pois a violência vem se
avolumando. É preciso fazer uma análise mais séria da situação, pois, com o
exagero, o cidadão já não sabe como se
defender. Não há hoje família que não
tenha tido um dos seus membros vítima
da violência. Existem jovens que atingiram um tal grau de irresponsabilidade
que a vida não tem para eles mais sentido; matam sem dó nem piedade, perderam a noção do bem. É absurdo pretender atribuir às pessoas que conhecem e
respeitam os princípios éticos e morais
a responsabilidade por terem deixado a
violência atingir tal ponto, não permitindo que os direitos humanos sejam
utilizados como se deve, para não utilizar medidas enérgicas contra o caos.
Os criminosos hoje são organizados e
cometem delitos de toda a ordem. A sociedade está contaminada e drásticas
providências terão de ser tomadas pelas
autoridades. O novo governo não pode
ser tolerante. Novos métodos de combate aos criminosos hão de ser adotados
sumariamente, de forma exemplar. Dizer que a violência não acaba com medidas violentas é uma idéia lógica, mas
também é certo que os grandes males
necessitam de grandes remédios.
Que se manifestem os doutos psicólogos, sociólogos, médicos, professores,
defensores dos direitos humanos também para bandidos; que se manifestem
os cidadãos decentes, que ainda são
maioria na sociedade. Não é somente
dando que se recebe. Não queremos retornar ao tempo da lei de Talião, porém
algo precisa ser feito efetivamente, porque hoje não mais existe segurança, e os
crimes prosperam em todos os campos
de atividade, especialmente pela ação
dos que não atuam em campo nenhum.
Até quando esse estado de coisas continuará, obrigando o cidadão a se defender isoladamente, enquanto os bandidos formam um exército do mal?
Mário Amato, 84, empresário, é presidente emérito da Fiesp.
Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Joaquim Falcão: Telefones, contratos e instituições Próximo Texto: Painel do leitor Índice
|