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São Paulo, quarta-feira, 16 de julho de 2003

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PAINEL DO LEITOR

México
Li com grande preocupação o editorial "Drama mexicano" (Opinião, 14/7), pois ele reproduz as imprecisões de um artigo do "Financial Times" de 30/6 intitulado "México's Lost Decade". O artigo do "FT", que nem sequer identifica com rigor o Nafta -pois o chama de North Atlantic Free Trade Agreement, quando na realidade o nome é North America Free Trade Agreement-, chama a atenção só sobre a visão negativa dos dez anos da assinatura do tratado. Como tudo na vida, o Nafta tem luzes e escuridão. As cifras demonstram muito mais suas luzes. O melhor exemplo dessa ênfase é a menção das 540 "maquiladoras" que migraram para a China com a perda consequente de 200 mil empregos. Migraram, sim, porque o salário dos trabalhadores mexicanos nas empresas exportadoras é de 35% a 60% maior do que nas empresas não-exportadoras. E isso é bom! O México não quer concorrer com salários baixos, pelo contrário. O governo mexicano sabe que a indústria montadora (as "maquiladoras') está obrigada a evoluir para uma maior integração nacional, e o desafio é colocar em marcha rapidamente os programas de política industrial que encadeiem a indústria exportadora com aquela dedicada ao mercado interno e que absorvam a mão-de-obra desempregada por causa da melhoria salarial. O editorial da Folha afirma, repetindo o argumento do "Financial Times", que, após dez anos, "mais da metade de sua população ainda vive na pobreza". Em 1994, ano do início do Nafta, a pobreza atingia 55,6% dos mexicanos. Em 2002, a pobreza diminuiu para 51,7%. Por que tão pouco? Pela profunda crise financeira de dezembro de 1994, que ocasionou uma queda de 7 pontos no PIB, uma perda de 10% nos salários reais, a perda de mais de meio milhão de empregos e um aumento da pobreza de 55,6% para 69,6% em 1996! Esse sim foi o drama! A crise não foi causada pelo Nafta, mas pela quebra do sistema político mexicano (assassinato do candidato presidencial do PRI, do secretário-executivo desse partido e distanciamento entre o ex-presidente Salinas e o recém-chegado presidente Zedillo) e pela consequente perda da confiança dos investidores. Em dois dias, saíram do país US$ 11 bilhões. Graças ao vigor das exportações, a recuperação do PIB tardou só sete meses -muito diferente de 1983, quando demoramos sete anos para sair de uma crise semelhante. Tão importante quanto saber o que é o Nafta -e estudar com rigor as suas lições, como recomenda oportunamente a Folha- é saber o que não é o Nafta. O tratado é só um instrumento da política comercial. Não é o único instrumento de desenvolvimento nem substitui o dever do governo de corrigir as desigualdades sociais com instrumentos próprios. O Nafta não é a chave do Paraíso, apenas a chave para os mercados americano e canadense, o que já é muita coisa."
Cecilia Soto, embaixadora do México (Brasília, DF)

Oriente Médio
"A Folha excluiu da reportagem "EUA e Israel dão novo fôlego ao Hizbollah" (Mundo, 22/6), assinada por mim, atrocidades cometidas por Israel - alterações que, segundo o editor, Sérgio Malbergier, "vieram de cima". Nas dez linhas que me foram permitidas para a retificação, fica impossível mostrar como a Folha transforma a sua opinião em verdade irrefutável. Em sua "novilíngua", a Folha fez da invasão israelense ao Líbano uma "intervenção", e o Hizbollah virou um grupo que pratica "terrorismo". Tivesse eu arvorado-me em juíza, teria decretado que a violência oficial de Israel, baseada na crença de que os judeus foram "escolhidos por deus" e tem a posse da Palestina assegurada pela Bíblia, é mais terrorista do que a luta do Hizbollah contra a ocupação israelense."
Paula Schmitt (Beirute, Líbano)

Nota da Redação - As alterações citadas pela missivista corrigiram o viés militante do texto, que tinha o propósito de ser uma reportagem, e não um artigo de opinião engajado em favor de um dos lados do conflito árabe-israelense.

Sem paradigmas
"Não posso deixar de registrar o quanto me impressionou positivamente a página de Mônica Bergamo dedicada aos "sem-emprego" ("Uma noite na fila dos garis", Ilustrada, pág. E2, 6/7). A sensibilidade da jornalista, ao dedicar todo o seu espaço ao lado avesso, porém majoritário, da realidade brasileira, inova e revoluciona o jornalismo social. Sem dúvida, essa página trará ao colunismo social um "antes e um depois". Senti naquele dia que ainda podemos ter esperança. Parabéns! Nada como a quebra de paradigmas."
Maria Christina de Andrade Vieira (Curitiba, PR)

Banco do Brasil
"O Banco do Brasil lamenta o título da reportagem "BB usa doleiro para transportar malotes" (Brasil, pág. A13, 6/7). Apesar do trabalho de apuração do repórter, que explicou que o BB não é responsável pela contratação desse serviço, o título, em tom alarmista, distorce o conteúdo da reportagem. O leitor da Folha recebeu informação equivocada em relação à atuação do Banco do Brasil como executante, há mais de 39 anos, dos serviços de compensação da rede bancária em todo o território nacional. Como o título do texto contradiz as informações apuradas, prejudicando o entendimento do leitor, reiteramos que o transporte de malotes dos bancos foi contratado pelos sindicatos dos bancos. Esse serviço visava prestar atendimento às agências das instituições bancárias participantes da compensação. São transportados malotes, de toda a rede bancária, apenas com cheques e documentos compensáveis."
Carlos Alberto Barretto de Carvalho, assessor de imprensa do Banco do Brasil (Brasília, DF)

Nota da Redação - O título da reportagem se justifica pelo fato de que, embora a contratação do serviço de transporte de malotes tenha sido feita pelo sindicato dos bancos, o Banco do Brasil é o coordenador do sistema, além de ter tido seus próprios malotes transportados pelo doleiro.

Terra
"Gostaria de parabenizar o professor Carlos Frederico Marés de Souza Filho por seu trabalho na Procuradoria Geral do Incra e, ao mesmo tempo, repudiar textos da Folha nas edições de domingo e segunda-feira. Enquanto Souza Filho, um dos maiores conhecedores de direito agrário do Brasil, elabora parecer emblemático em relação à legislação antiinvasão do governo FHC, abordando aspectos constitucionais sobre o tema, a Folha, num total desconhecimento da aplicação de princípios constitucionais no direito, diz que o "Incra ensina a driblar lei contra invasão" -quando o que está sendo feito é uma leitura conforme a Constituição. O editorial "A lei do Incra" (14/7) ainda aduz: "É inadmissível, numa situação como essa, o governo, que prometera promover uma reforma agrária pacífica, ocultar-se atrás de pareceres comprometidos com a desordem para deixar de cumprir a lei". É triste que um jornal de circulação nacional aponte como "um parecer comprometido com a desordem" documento que apenas aponta uma interpretação conforme a Constituição de uma lei claramente contrária ao ditames da Carta Magna se aplicada conforme o entendimento do governo FHC e da Folha."
Tarso Cabral Violin, chefe da assessoria jurídica do Instituto de Ação Social do Paraná (Curitiba, PR)


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