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ELIANE CANTANHÊDE
Paciência tem limite
BRASÍLIA - Enquanto Lula usava um novo discurso para pedir "paciência"
pela quarta vez em duas semanas,
bravos repórteres da Sucursal da Folha em Brasília terminavam um levantamento mostrando que é preciso
mesmo muita, muita, mas muita paciência com o governo. Porque as coisas não estão andando.
Pelo Siafi (o sistema de acompanhamento do governo), quase 40%
dos 340 programas federais tiveram
gasto inferior a 10% de sua dotação
orçamentária nos últimos seis meses.
É como se o país estivesse uma maravilha. Para que gastar dinheiro com
estradas e com segurança, por exemplo? Bobagem.
Uma curiosidade é que o discurso
de Lula pedindo paciência foi na
Conferência Nacional de Políticas
Públicas para as Mulheres. Bem
apropriado, pois um dos programas
que menos aplicou recursos foi justamente o de Atenção Integral à Saúde
da Mulher. Para ser exata, o Siafi diz
que não foi gasto um só centavo desse programa desde o início do ano.
Provavelmente as mais de 2.000 mulheres estimadas na conferência não
acham isso, mas a saúde feminina
deve andar uma beleza.
Em mais uma curiosidade, o ministro José Dirceu foi prestigiar o encontro de mulheres à tarde e defendeu o atual governo diante da queda do
Brasil no ranking do Pnud (órgão da
ONU para desenvolvimento). Segundo ele, os gastos com saneamento e
analfabetismo cresceram de "maneira expressiva" em 18 meses.
Não sabemos de que país ele falava,
pois os dados mostram que um dos
programas que menos recebeu verbas foi exatamente o de combate ao
analfabetismo. Possível razão: era a
menina dos olhos do ministro Cristovam Buarque. Vai ver que o seu sucessor, Tarso Genro, não gostou.
Aliás, essa é uma comparação interessante a ser feita: ministério que
trocou ministro parou de tocar os
programas e de usar as verbas previstas, começando do zero. O que não
dá para entender: afinal, eles não são
todos do PT ou de aliados do PT?
O presidente, portanto, tem toda
razão: é preciso ter muita paciência.
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