São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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CARLOS HEITOR CONY

A alternativa

RIO DE JANEIRO - Lulistas radicais começam a armar a teoria da conspiração das elites contra o governo do PT inconformadas com a subida ao poder de um operário, um homem saído das camadas mais pobres da população.
Mesmo antes dos escândalos que agora balançam o coreto do PT, venho dizendo que Lula é um "outsider" do processo político nacional, está além e acima das contingências de uma selva de interesses e egos em disputa. Não é homem de governo e tem tanto de estadista como de marciano. Por isso mesmo é um caso raro. Ia dizer "avis rara", expressão latina, submeto-me à gíria da moda e repito: é um "outsider".
Foi líder sindical, o mais importante de nossa história. Ficou nisso, com sua fabulosa capacidade de captar as reivindicações do operariado e, por extensão, das classes mais oprimidas. Reservou-se (e o fez com genialidade) o papel de mediador, administrando as alas em litígio do PT, a tal ponto que acabou superando o partido, empolgando a classe média, setores intelectuais e até mesmo empresariais. Nesse particular, honra e glória ao ex-metalúrgico.
Lincoln, todos sabemos, era um lenhador humilde, mas se tornou um estadista, um dos pais da nação que ajudou a formar e a tornar grande. Lula nem deu para a saída. Na realidade, não tem interesse em governar, mas em ficar por cima, não para satisfazer uma vaidade (ele não precisa disso), mas por falta de gosto e competência. Deixou isso para os outros e se deu mal.
A menos que surjam fatos novos que mudem o rumo dos acontecimentos, Lula não merece um impeachment. Nem mesmo o repúdio geral da sociedade. As últimas pesquisas o comprovam.
Contudo não poderá escapar da alternativa que um deputado da oposição lançou contra ele: ou é, de alguma forma, cúmplice dos escândalos, ou (evito a palavra usada pelo deputado) é um pobre de espírito, daqueles que, como diz o Evangelho, têm direito ao reino dos céus.


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