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CARLOS HEITOR CONY
A alternativa
RIO DE JANEIRO - Lulistas radicais começam a armar a teoria da conspiração das elites contra o governo do
PT inconformadas com a subida ao
poder de um operário, um homem
saído das camadas mais pobres da
população.
Mesmo antes dos escândalos que
agora balançam o coreto do PT, venho dizendo que Lula é um "outsider" do processo político nacional, está além e acima das contingências de
uma selva de interesses e egos em disputa. Não é homem de governo e tem
tanto de estadista como de marciano.
Por isso mesmo é um caso raro. Ia dizer "avis rara", expressão latina, submeto-me à gíria da moda e repito: é
um "outsider".
Foi líder sindical, o mais importante de nossa história. Ficou nisso, com
sua fabulosa capacidade de captar as
reivindicações do operariado e, por
extensão, das classes mais oprimidas.
Reservou-se (e o fez com genialidade)
o papel de mediador, administrando
as alas em litígio do PT, a tal ponto
que acabou superando o partido, empolgando a classe média, setores intelectuais e até mesmo empresariais.
Nesse particular, honra e glória ao
ex-metalúrgico.
Lincoln, todos sabemos, era um lenhador humilde, mas se tornou um
estadista, um dos pais da nação que
ajudou a formar e a tornar grande.
Lula nem deu para a saída. Na realidade, não tem interesse em governar,
mas em ficar por cima, não para satisfazer uma vaidade (ele não precisa
disso), mas por falta de gosto e competência. Deixou isso para os outros e
se deu mal.
A menos que surjam fatos novos
que mudem o rumo dos acontecimentos, Lula não merece um impeachment. Nem mesmo o repúdio
geral da sociedade. As últimas pesquisas o comprovam.
Contudo não poderá escapar da alternativa que um deputado da oposição lançou contra ele: ou é, de alguma forma, cúmplice dos escândalos,
ou (evito a palavra usada pelo deputado) é um pobre de espírito, daqueles que, como diz o Evangelho, têm
direito ao reino dos céus.
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