São Paulo, sábado, 16 de julho de 2005

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Hora de cidadania

As notícias sobre a vida política nacional divulgam acusações e denúncias, gerando perplexidade e a exigência de averiguação a fim de que a verdade seja conhecida. Está em curso uma série de comissões de inquérito, depoimentos e incriminações. É necessário esclarecer, separar o joio do trigo, aferir responsabilidades e sanar, o quanto antes, o ambiente político do país. Em todo esse procedimento, temos de evitar a precipitação de acreditar nos noticiários antes das justas avaliações e julgamentos.
Criou-se um clima de desconfiança e de perda de credibilidade que atinge governantes sobre os quais se depositava a esperança de reformas e de mudanças indispensáveis para superar os efeitos negativos do atual sistema econômico,
Diante dessa situação complexa, somos todos convocados a exercer o dever de cidadania, unindo forças e reforçando as bases democráticas em busca de soluções viáveis para o Brasil. Não é tempo para competições partidárias nem para lamentações diante do infortúnio causado pela má administração. Está em questão o bem do povo, o que requer capacidade de enfrentar as dificuldades, humildade de corrigir erros e desvios e coragem para salvaguardar os valores indispensáveis à construção da sociedade justa e solidária.
Esperamos que nossos governantes saibam manter a serenidade e cumprir a obrigação de apurar os fatos referentes à corrupção, identificar os responsáveis, aplicar as leis que exigem sua punição e promover o ressarcimento das verbas destinadas às reformas sociais.
O mais importante, no entanto, é a lucidez e a decisão de mudanças no sistema político do Brasil. A prioridade insubstituível é a da dignidade da pessoa que deve presidir a organização do Estado. Segue-se a urgência de respeitar os princípios éticos e de submeter a eles as opções econômicas. Isso implica a determinação de executar reformas imediatas que assegurem a milhões de brasileiros o acesso à terra, à moradia, ao trabalho com salário justo e às demais condições de vida digna.
A articulação dessas metas não pode tardar para que nosso povo acredite ainda na seriedade e na competência dos governantes e mantenha a esperança. É momento da cooperação dos movimentos populares e das formas de participação da sociedade organizada. O Congresso há de convocar seus líderes para uma ação conjunta na elaboração de medidas que apressem as políticas públicas tão aguardadas pelo povo. Entre elas encontra-se a necessidade de rever o custo da energia elétrica, do gás de cozinha e dos remédios. Há uma desproporção crescente entre o salário e os gastos familiares. Por que não promover, de modo pacífico e progressivo, a partir dos municípios, a reforma agrária e agrícola que poderá beneficiar de quatro milhões a cinco milhões de famílias?
A execução dessas decisões implica a atuação integrada e imediata entre a União, os Estados e os municípios com a elaboração de programas de emergência. Temos de oferecer ao mundo a prova de nossa maturidade política. A fase histórica que vivemos requer patriotismo e exercício pleno da cidadania.
No entanto precisamos, para isso, renunciar a pretensões políticas e vantagens econômicas abusivas de pessoas e grupos, retificar as intenções e recorrer, com humildade e confiança, a Deus para que nos ensine os caminhos da justiça, da concórdia e da paz.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.
@ - almendes@feop.com.br


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