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CARLOS HEITOR CONY
Coisas
RIO DE JANEIRO - Acredito que
muitos se escandalizaram com a foto publicada ontem, na qual dois
políticos, um presidente da República e um ex, Lula e Collor exatamente, estão abraçados, sorrindo,
dividindo o mesmo palanque. Não
se precisa ir tão longe no passado
para lembrar a campanha em que
os dois se engalfinharam, inclusive
com o baixo recurso usado por um
deles, que desencavou uma filha
bastarda do outro. Coisas.
Política é assim mesmo -dizem
os políticos. Citam a famosa foto de
Luiz Carlos Prestes, recém-saído da
prisão do Estado Novo, ao lado de
Getúlio Vargas, que para todos os
efeitos históricos ficou sendo o seu
carcereiro. Queiramos ou não, os
dois estavam certos, como Lula e
Collor politicamente estavam certos quando brigavam e estão certos
quando voltam à cordialidade que
se espera dos homens públicos.
Mas nem todo mundo é político
-graças a Deus. Em outros setores
da faina humana, as coisas são diferentes. Dou um exemplo: Monteiro
Lobato queria entrar na Academia
Brasileira de Letras, tentou três vezes, retirando a candidatura que
já lançara.
Numa das vezes, tinha tudo para
ser eleito, inclusive com o voto de
Getúlio Vargas, que tomara posse
após uma reforma no regimento da
ABL. Com o prestígio, a popularidade e o valor literário consagrados,
Lobato já podia encomendar o fardão. Mas o jornalista Júlio Mesquita, seu amigo e admirador, ponderou: "Você vai sentar ao lado do
homem que o prendeu e o manteve
preso tantos anos!" No mesmo dia,
Lobato retirou sua candidatura.
Coisas.
No enterro de Magalhães Jr., no
complicadíssimo cemitério São
João Batista, cheio de degraus e buracos, vi o comunista Dias Gomes
levando praticamente no colo o general da Junta Militar, Lyra Tavares. Mais uma vez: coisas.
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