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CLÓVIS ROSSI
Haja Duda Mendonça
SÃO PAULO- O Luiz Inácio Lula da
Silva que apareceu anteontem à noite na minha TV parecia de plástico.
É típico, aliás, dos trabalhos de Duda Mendonça. Convém, antes de entrar no assunto propriamente dito,
deixar claro que nada tenho contra
Duda ou os marqueteiros políticos
em geral. Sei que muita gente séria e
do bem reclama deles, como se conspurcassem as campanhas políticas.
Talvez até tenham razão, mas campanhas políticas jamais foram puras
desde que inventaram as eleições,
que, não obstante, continuam sendo
o melhor meio (ou o menos ruim) de
escolher dirigentes.
Meu problema com o Duda (e com
outros marqueteiros) é que ele se revela de uma qualidade fenomenal na
hora de vender o candidato, qualquer que seja. Mas nem seu imenso
talento publicitário lhe dá forças para vender também o governante, a
menos, é claro, que este tenha muita
coisa a mostrar.
Não é o caso, ainda, do governo Lula, cuja única obra, a rigor, foi continuar a obra do governo anterior, o
que é sempre mais fácil. Mas, como
foi eleito em nome da "mudança",
não tem um produto de sua própria
lavra para exibir.
Do que decorre, fatalmente, o artificialismo da aparição na rede nacional de TV. Despejou uma catarata de
platitudes e, ainda por cima, queixou-se dos que "ainda reclamam",
mesmo depois de sete meses de sucessos estrondosos, que, no entanto, só
aparecem na mensagem de Duda
Mendonça.
Não quero estragar o prazer que
Lula sente em relatar seus triunfos,
mas, só como ajuda-memória, alguns títulos das edições de ontem e de
anteontem desta Folha que explicam
as reclamações: "IBGE mostra que
indústria desacelera em todo o país";
"SP registra pior junho desde 1999";
"Queda da produção diminui a arrecadação de impostos"; "Aumenta
pessimismo do brasileiro"; "Calote do
cheque sem fundos registra novo recorde anual"; "Venda no comércio
atinge 7 meses de queda".
Sinto, presidente, mas não há Duda
Mendonça que dê jeito nisso.
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