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CARLOS HEITOR CONY
"Ad petendam pluviam"
RIO DE JANEIRO - O "Painel do Leitor" publicou, nesta semana, carta
em que um cidadão reclama das orações que os católicos foram aconselhados a fazer pedindo chuva. Na
opinião do missivista, em vez de pedir chuva, os católicos deveriam fazer
uma cruzada para impedir os atentados ecológicos, sobretudo o desmatamento das florestas.
Em todas as religiões, mais precisamente no núcleo de qualquer religião
-monoteísta ou politeísta, primitiva
ou articulada-, situa-se a fragilidade do ser humano diante das agressões de uma natureza ainda não dominada pela nossa civilização. Povos
selvagens batem tambores e índios
batem atabaques pedindo chuva. No
próprio paganismo, havia sacrifícios
rituais aos deuses específicos de cada
necessidade natural, inclusive de
chuva para o crescimento das lavouras.
No catolicismo, há até mesmo uma
oração, "Ad petendam pluviam", para pedir chuva, como há outra, "ad
repellendas tempestates", que é bastante parecida, mas com pólo invertido, não pede chuva, pede bonança.
Em linhas gerais, essas orações, que
encontram equivalentes no culto de
todas as religiões e até mesmo no mecanismo de defesa de quem não tem
religião nenhuma, formam a linha
de primeiro combate do ser humano
diante das forças que ainda não domina. É sinal de fragilidade, sim, mas
de humildade também, que é agradável aos deuses.
Quanto ao desmatamento e à poluição, o problema transcende ao
campo religioso. É questão para a sociedade e para os governos combaterem e punirem legalmente. Embora a
situação se agrave a cada dia, já há
indústrias que destinam dois terços
de suas terras ao replantio de árvores.
Devorando toneladas de madeira todos os dias, é necessário garantir a
oferta de matéria-prima. A mesma
mentalidade, aplicada a outras indústrias, poderá garantir a estabilidade ecológica que pretendemos.
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