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GUERRA IMPRODUTIVA
Como sabe qualquer delegado,
quando se intensifica a repressão ao crime numa determinada área
da cidade, a tendência é que os bandidos passem a atuar numa outra região. Os norte-americanos parecem
ter-se esquecido dessa lição básica
no que diz respeito ao combate à
produção de cocaína. Cerca de 70%
do consumo dessa droga nos EUA é
suprido por traficantes colombianos. Essa foi a principal razão pela
qual Washington elaborou o Plano
Colômbia, com o qual já injetou cerca de US$ 3 bilhões em ajuda militar
ao país andino desde 2000.
Os resultados, no entanto, como
mostrou reportagem do site da revista "The Economist", são duvidosos.
De um lado, relatórios indicam que a
produção de coca (a planta da qual se
extrai a droga) na Colômbia caiu
58% entre 2000 e 2003. Apesar disso,
não se verificou nenhuma redução
na quantidade de cocaína que chega
ao consumidor norte-americano.
É possível que os grandes traficantes se estejam valendo de seus estoques. Mas também é possível que as
plantações de coca estejam migrando para outros países andinos, onde
os EUA terão maiores dificuldades
para traçar uma estratégia de combate. Na Bolívia, por exemplo, que, antes da Colômbia era a principal produtora, a tentativa de erradicar a coca
foi uma das razões que levaram à deposição do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, em outubro de 2003.
O líder cocalero Evo Morales, que ficou em segundo lugar no último
pleito presidencial, segue sendo uma
espécie de fiador do atual governo.
No Peru, o presidente Alejandro
Toledo, cuja popularidade caiu a
10%, não tem nenhum interesse em
descontentar os plantadores de coca.
Por fim, não se pode desprezar a
possibilidade de que a coca migre
para países que não têm tradição de
cultivo, como o Equador e a Venezuela. Nessas hipóteses, é de perguntar qual seria o novo passo da
"guerra contra as drogas": mudar de
país? Espalhar-se por toda a região?
As evidências mostram que o problema das drogas está longe de comportar uma solução militar.
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