São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2006

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Farsa da politização

Facção criminosa tenta esconder face mafiosa com discurso "político'; público e autoridades não devem cair na armadilha

"A FACÇÃO faz uma série de tipos de ataques e depois vai para o seqüestro, tudo para passar uma nova imagem de liderança de "oprimidos" dentro do sistema prisional. Passa a querer ter uma coloração política para melhorar a imagem." Nessas palavras, ditas ao jornal "O Globo", o ex-secretário nacional de Segurança Pública Walter Maierovitch expressa o engodo em que o chamado PCC tenta enredar a opinião pública.
O simulacro de "manifesto" transmitido, sob coerção, pela TV a todo o território paulista nas primeiras horas do domingo ajudou a disseminar a falsa impressão de que a organização criminosa caminha para a política. Basta ter acompanhado a leitura silábica -de alguém que mal venceu a alfabetização- que um bandido de capuz faz de texto plagiado de pareceres jurídicos para descrer da hipótese.
Acuado pela repressão e o isolamento de seus líderes nos presídios, responsável por uma série de atentados que atemorizam e dificultam o cotidiano de milhões de paulistas, o grupo faz uma bricolagem de discurso "político" -colando pedaços de argumentos utilizados por setores da sociedade civil- na tentativa de angariar simpatias no público.
Até o "know how" terrorista de guerrilhas que migraram da esquerda para o banditismo comum teria sido passado, por meio de um seqüestrador chileno preso em São Paulo, à organização criminosa. Tudo na tentativa de encobrir a verdadeira natureza do PCC, que não passa de uma organização que se desenvolve dentro dos parâmetros clássicos das máfias.
Nenhum laço político ou programático une a quadrilha paulista. Sua organização se baseia na obediência cega de comandados a comandantes para a perpetuação e a ampliação de seus negócios criminosos. A quem está dentro do círculo mafioso e retribui à organização com atos delituosos, é providenciada "proteção", extensiva aos familiares fora dos muros das prisões. Quem rompe o pacto ou perde disputas de poder é assassinado.
Os facínoras não se batem contra o Regime Disciplinar Diferenciado porque o considerem incompatível com o Estado de Direito -eles não têm nenhum compromisso com o Estado de Direito. Atacam a norma que possibilita o nível máximo de isolamento de chefes mafiosos nas penitenciárias pelo simples fato de ela frustrar, profundamente, os interesses criminosos da quadrilha.
Não caiamos, pois, na esparrela da "politização" do crime organizado paulista. Ela só oculta os objetivos da facção criminosa e dificulta a repressão, que deve ser a mais dura batalha já travada pelas forças de segurança no país, a essa chaga mafiosa.


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