São Paulo, quarta-feira, 16 de agosto de 2006

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Nova fase

COM a exibição do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, tem início nesta semana uma nova etapa no calendário político deste ano. Até o momento, os candidatos à Presidência da República limitaram-se a apresentar seus currículos, a envergar o figurino de pessoas simples e acessíveis e, quando muito, a estabelecer uma genérica carta de intenções.
A cautela é praxe em início de campanha. Os formatos estão sendo testados. As estratégias devem tornar-se nítidas à medida que estejam claros os apelos mais influentes sobre o eleitor. A permanecerem estáveis as pesquisas de intenção de voto, que dão vitória ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno, o cenário mais provável é, de um lado, o endurecimento das invectivas do candidato Geraldo Alckmin sobre a administração petista e, de outro, a súbita insistência do presidente no subterfúgio da reforma política e do caráter "sistêmico" da corrupção.
Espera-se que os formuladores dos programas dos partidos atenuem a tendência à espetacularização verificada nos últimos anos e afinem seus dotes publicitários em razão do debate informativo e responsável. O contraste vigoroso de propostas, a exposição sistemática dos flancos considerados frágeis do adversário, o questionamento incisivo no campo da ética, a avaliação de legados administrativos, todos esses elementos fazem parte de uma campanha desejável para o aprimoramento da democracia.
A vida íntima de adversários deve ficar de lado, sem esquecer, porém, que a esfera de privacidade de um homem público é mais restrita do que a de um cidadão que não pleiteia posto eletivo.
O melhor é que o lado propositivo se sobressaia. Mas é importante, também, que os candidatos levem em conta os limites cada vez mais restritos dos orçamentos públicos. Para aplicar recursos em um projeto "novo", é sempre necessário tirá-los de um programa "velho". Do contrário, o sacado será o contribuinte. Após fura-filas e outras marquetagens do gênero, ficou muito mais difícil iludir o eleitor, escaldado, com conversa fiada embalada em truques de imagem.


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