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CARLOS HEITOR CONY
Bangu e o papa
RIO DE JANEIRO - A semana que passou foi marcada pela rebelião na
penitenciária de Bangu. Muito já se
escreveu e se falou sobre o episódio, e,
honestamente, fico em dúvida se deveria poluir ainda mais a já poluída
cobertura que a mídia fez do incidente.
Analisando superficialmente o caso, sem entrar nos detalhes da operação policial, concluí que a crise no setor se deve, basicamente, à cumplicidade do crime organizado com a própria polícia.
Evidentemente que não se trata de
um conluio entre a estrutura de segurança em si e os criminosos de diversas origens e finalidades. A conexão
entre policiais e criminosos se dá nas
próprias trincheiras, no dia-a-dia das
penitenciárias e delegacias. Os estados-maiores, tanto o da polícia como
o do crime, fazem seu papel, tomam
providências para garantir a operação do combate ou da prática do crime.
Oficialmente, estão em guerra permanente. Acontece que no campo da
batalha os dois escalões se entendem
de uma forma ou de outra, pagando
o preço de algumas vidas de um lado
e de outro. Perdas que não chegam a
alterar a rotina, o entendimento
clandestino (às vezes não muito clandestino) entre os agentes e os violadores da lei.
Há coisa de dois meses, estive entrevistando um preso numa das penitenciárias de segurança máxima,
considerada pleonasticamente uma
das mais seguras do país. Ele me mostrou dois celulares e me garantiu que
havia colegas de prisão que tinham
três aparelhos, um deles operando
em faixa da própria polícia, podendo
dar e receber informações das atividades tanto dos policiais, como dos
grupos criminosos.
Perguntei como isso se tornava possível e ele me aconselhou a não me
preocupar com o assunto. Qualquer
um que fosse pesquisar a sério a aberração poderia provocar até mesmo a
"queda do papa".
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