São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Bangu e o papa

RIO DE JANEIRO - A semana que passou foi marcada pela rebelião na penitenciária de Bangu. Muito já se escreveu e se falou sobre o episódio, e, honestamente, fico em dúvida se deveria poluir ainda mais a já poluída cobertura que a mídia fez do incidente.
Analisando superficialmente o caso, sem entrar nos detalhes da operação policial, concluí que a crise no setor se deve, basicamente, à cumplicidade do crime organizado com a própria polícia.
Evidentemente que não se trata de um conluio entre a estrutura de segurança em si e os criminosos de diversas origens e finalidades. A conexão entre policiais e criminosos se dá nas próprias trincheiras, no dia-a-dia das penitenciárias e delegacias. Os estados-maiores, tanto o da polícia como o do crime, fazem seu papel, tomam providências para garantir a operação do combate ou da prática do crime.
Oficialmente, estão em guerra permanente. Acontece que no campo da batalha os dois escalões se entendem de uma forma ou de outra, pagando o preço de algumas vidas de um lado e de outro. Perdas que não chegam a alterar a rotina, o entendimento clandestino (às vezes não muito clandestino) entre os agentes e os violadores da lei.
Há coisa de dois meses, estive entrevistando um preso numa das penitenciárias de segurança máxima, considerada pleonasticamente uma das mais seguras do país. Ele me mostrou dois celulares e me garantiu que havia colegas de prisão que tinham três aparelhos, um deles operando em faixa da própria polícia, podendo dar e receber informações das atividades tanto dos policiais, como dos grupos criminosos.
Perguntei como isso se tornava possível e ele me aconselhou a não me preocupar com o assunto. Qualquer um que fosse pesquisar a sério a aberração poderia provocar até mesmo a "queda do papa".


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